FILMES NOTA 06
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- DirectorWilliam FriedkinStarsJason RobardsBritt EklandNorman WisdomA naive young Amish woman runs away from her home in Pennsylvania to New York City, where she hopes to act in religious stage plays but ends up performing in Burlesque theatre.''Este filme um tanto obscuro, nada badalado, é uma delícia. Conta a história de uma inocente garota amish (Britt Ekland) – aquela comunidade religiosa cristã ortodoxa que se recusa a aceitar todos os tipos de modernidade – que vai para Nova York à procura de um emprego como bailarina em histórias religiosas, nos anos 20, e acaba se envolvendo com pessoal do teatro burlesco. Ali, onde, como bem nota a resenha do AllMovie, a única coisa levemente relacionada com a Bíblia é a sensual dança dos sete véus de Salomé, ela conhece um bando de figuras malucas, excêntricas, engraçadíssimas, interpretadas por um bando de ótimos atores – e acaba, sem saber, sem querer, inventando o striptease.
Me pareceu um filme bem recente, tamanhos o despudor, a tranqüilidade, a naturalidade com que trata desses temas. Assim que terminei de ver e vim fazer esta anotação, vi que ele é de 1968. Tem sentido: era a época em que o cinema refletia a revolução dos costumes, da liberdade sexual. E era també a época em que o diretor William Friedkin estava começando, cheio de gás e talento – três anos depois, em 1971, faria Operação França, e, em 1973, O Exorcista. O IMDB informa que a primeira versão do filme foi considerada desastrosa por todos os envolvidos. O montador Ralph Rosemblum trabalho no material durante mais de um ano para salvá-lo, muito tempo depois de o diretor William Friedkin ter deixado o projeto. O uso extensivo de clips de filmes da época foi uma idéia de Rosenblum. A técnica de voltar desses clipes para o filme, começando com uma versão preto-e-branco da tomada e mudando para cor foi inventada acidentalmente quando o assistente do montador não conseguiu encontrar uma versão e cores de um pedaço do filme. Que seja. De qualquer forma, é um filme para ver de novo e curtir muito." (50 Anos de Cinema) - DirectorMike NewellStarsJulia RobertsKirsten DunstJulia StilesKatherine Watson teaches art history in 1953 at the respectable all-female Wellesley College. She encourages her conservative students to question and disregard the outdated societal mores for women."O paralelo que se estabelece entre o enigmático sorriso de Mona Lisa e o radiante sorriso de Julia Roberts faz desse filme algo muito mais sensível e tocante do que aparenta ser. Reduzi-lo a cópia de Sociedade dos Poetas Mortos é bobagem." (Heitor Romero)
Uma cópia - bem - piorada de Sociedade dos Poetas Mortos. Julia Roberts mais uma vez superestimada.
''Se os filmes do Stallone ou do Schwarzenegger podem ser considerados, de maneira geral, filmes pra homem, os da Julia Roberts certamente são o oposto. Explorando temas de interesse do seu público, essa nova investida da atriz nas telas é uma tentativa segura de manter sua base de fãs na mesma, ou seja, nada de tentar inovar, apenas fazendo o papel que sempre fez: mocinha que passa por altos e baixos, tentando encontrar a felicidade no amor e no trabalho, com uma pitada de tudo - romance, humor e drama. O diretor é Mike Newell, o mesmo de Quatro Casamentos e Um Funeral (vai fazer o Harry Potter and the Globet of Fire, provavelmente para 2005), que também exerce um trabalho burocrático, num filme nada original e, falando bem seco e francamente, muito chato. O que dizem, quando comparam com Sociedade dos Poetas Mortos, que este é praticamente uma cópia feminina daquele filme, é a pura verdade. O roteirista é o maior cara-de-pau ao copiar elementos do bom filme do diretor Peter Weir: uma professora novata chega numa rigorosa faculdade exclusiva para moças e deve superar as dificuldades com a diretora e com suas alunas rebeldes (ou algo assim), ao mesmo tempo que encontra dificuldades amorosas (com a existência do velho clichê do triângulo amoroso). Ela deve enfrentar um regime de ensino altamente antiquado, que mostra que as mulheres servem apenas como meras empregadas dos maridos, libertando tais idéias das mentes de suas alunas, incitando-as a conseguirem a liberdade de pensamento numa sociedade que dita as normas do que é certo e errado. ''O Sorriso de Mona Lisa'' é bem mais leve do que Sociedade, em alguns momentos até faz refletir sobre temas como machismo na sociedade (tal pensamento da mulher submissa ainda é comum hoje em dia). Por ser mais leve, teoricamente deveria ser até mesmo mais divertido. Só que tudo se passa no modo “ultra-lento”. O filme parece comprido pacas (e olha que tem somente por volta de duas horas de duração) e, sendo a sua história previsível como é, não havia motivos de tanta demora para chegar onde todos já sabiam que chegaria. Julia Roberts, uma atriz que em minha opinião é ordinária no máximo, boa em momentos raros, e excelente em momento nenhum, que ganhou fama como prostituta (!!!) em Uma Linda Mulher, que ganhou um Oscar desmerecidamente por Erin Brockovich (por justiça Ellen Burstyn deveria ter ganho em 2000 por Réquiem Para Um Sonho), está fazendo o que sempre fez na maioria dos seus papéis: sendo simpática, gesticulando muito (a atriz possui uma boa linguagem corporal, sabe se movimentar em cena) e sorrindo muito (até porque seu sorriso tem ligação com o título do trabalho). O filme, antes do lançamento, foi muito esperado por ter um elenco feminino de grandes estrelas, além da protagonista Julia Roberts. Kirsten Dunst e Julia Stiles: cada uma sozinha já faria muita gente ir aos cinemas, então imagine-as juntas, lado a lado. O problema é que suas personagens não são lá muito interessantes (uma é a rebelde da turma; a outra é a santinha), então a sensação que fica é de que o filme possui um grande elenco mal aproveitado. Na parte masculina não há nada que valha ser considerado: os homens são apenas uma sombra no meio de tantos talentos femininos. E dentro de um assunto que realmente os torna vilões, é melhor que seja assim. Que o filme seja somente delas, então! De maneira geral, ''O Sorriso de Mona Lisa'' é apenas uma cópia piorada, uma tentativa de reciclagem de um subgênero – o drama de faculdade – bastante limitado. Coloca algumas idéias bacanas na tela, mas é lento demais e nem sempre chega no lugar certo, tanto que muitas questões são simplesmente ignoradas ao final (o clube secreto das garotas – outro elemento presente em Sociedade – é algo totalmente imbecil dentro do roteiro, que não serve para nada na história). Se fosse pelo menos divertido, eu recomendaria, mas não é o caso. Um filme superficial sobre um assunto desinteressante. Passável, altamente passável." (Alexandre Koball)
''Alguns críticos denominaram esta produção de Mike Newell (Quatro Casamentos e Um Funeral) de A Sociedade dos Poetas Mortos de saia. Na verdade é muito menos do que isso. As semelhanças se devem a que a história se passa na reprimida década de 50 do século passado e à temática do professor que quer abrir a cabeça dos seus alunos. Só que ao contrário de filme com Robin Williams este tem um roteiro muito frouxo, mal contado. A falta de talento para conduzir a história é tanta que possivelmente esta fita não agrade nem ao seu público alvo, as mulheres. Julia Roberts é a professora modernex que vai dar aulas de História da Arte num instituto de ensino só de moças muito ricas e esnobes. No começo. é claro, surgem as dificuldades de adaptação a um lugar tão hostil, as meninas não serão osso fácil de se roer. O que ser quer mostrar aqui é a rigidez da época, a falta de futuro profissional de mulheres que poderiam ser brilhantes em qualquer área que quisessem seguir mas invariavelmente saiam dali apenas para o casamento. A professorinha se acha na função de mostrar-lhes outras possibilidades. Pena que seja tudo tão maniqueista, quadrado. Não há nuances nas personalidades dos personagens. É quase uma novela de tão superficial. Merecem atenção as 3 atrizes que interpretam os papéis principais ao lado de Julia Roberts. Kisten Dunst, que acaba virando a vilã mas na verdade não passa de uma infeliz esposa, Julia Stiles, que tem tudo para ser uma grande advogada preferindo porém, casar-se e ter filhos e Maggie Gyllenhaal, a única liberada do grupo, incluindo até a professora, que não convence no seu papel de moderna, nunca parece natural nem que faz as coisas por convicção. Tem-se a impressão de ser uma coitada mesmo, que chegou ali meio sem saber o por quê. Se era tão moderninha assim, por que cargas d´agua, caiu nos braços do professor de italiano garanhão que seduzia todas as suas alunas ingênuas? Os papéis secundários também são muito mal desenvolvidos, há até uma alusão ao lesbianismo mas foi focado de forma tão supérflua que a maioria das pessoas nem se dá conta e passa batido mesmo. O nome do filme se deve a uma citação que uma das meninas faz ao quadro, enquanto fala com a mãe diz : veja mamãe, a Mona Lisa está sorrindo mas não está contente.o diretor faz questão de repetir esta mensagem colocando o quadro várias vezes durante o filme, até a música é cantada. Apenas uma vez seria mais do que necessário. Há até o fim homenagem das alunas para a professora. Já que você resistiu até esse ponto fique mais uns minutinhos sentado na poltrona e veja as imagens reais de propagandas da época em que se passa a fita." (Cine Pop)
61*2004 Globo - DirectorJohn HustonStarsBibi AnderssonRichard BooneNigel GreenDuring the Cold War a Naval Intelligence officer endowed with a powerful photographic memory is transferred to the CIA to participate in a covert operation in Moscow.
- DirectorMichael HoffmanStarsHelen MirrenJames McAvoyChristopher PlummerA historical drama that illustrates Russian author Leo Tolstoy's (Christopher Plummer's) struggle to balance fame and wealth with his commitment to a life devoid of material things.''Próximo do final de sua vida, o escritor russo Liev Tolstoi (1828-1910) renegou praticamente todo o seu trabalho e quis doar seu dinheiro para obras sociais. Pretendia deixar em seu testamento os direitos de suas obras para os pobres da Rússia, e não para os próprios filhos. Renegando suas obras-primas, Guerra e Paz e Anna Karienina, ele entrou em conflito com sua mulher, Sonia, que, não sem razão, queria proteger o patrimônio da família. Em "A Última Estação", que estreia apenas no Rio nesta sexta-feira, o diretor Michael Hoffman (Sonho de uma Noite de Verão) narra esses momentos finais da vida do escritor pelo ponto de vista de um jovem contratado para ser secretário de Tolstoi. James McAvoy é esse rapaz, Valenti Bulgakov, que com uma combinação de inocência e curiosidade se vê no meio do embate entre Sonia (Helen Mirren) e o Chertkov (Paul Giamatti), uma espécie de discípulo e manipulador de Tolstoi (Christopher Plummer). O roteiro, escrito pelo diretor, é baseado no romance homônimo de Jay Parini. Mantendo a essência do romance, mas baixando o tom dos personagens, Hoffman muitas vezes é reverente demais com a grandiosidade das figuras históricas que retrata - especialmente o casal Tolstoi. As interpretações de Helen e Plummer, por outro lado, tentam contornar o halo de inatingível que o filme coloca em torno dos personagens. Não é apenas Liev que perde o juízo. Sonia também cruza a linha do bom senso tentando defender aquilo que acha certo. Ela enlouquece (ou se finge de louca para conseguir o que quer) a ponto de bater com a cabeça na parede e sair pela casa gritando. Já seu marido definha debaixo do jogo de interesses de Chertkov, enquanto Bulgakov assiste a tudo impotente. Através do filme, conta-se muito sobre os interesses de Tolstoi e sua vontade de ajudar os camponeses, mas pouco sobre quem são essas pessoas e as razões de ele querer ajudá-las. Assim sendo, as ideias fraternais dele parecem coisa de um pré-hippie sonhador - ou, pelo visual de Plummer no filme, pode-se pensar até numa espécie de Papai Noel russo. Em "A Última Estação", a Tolstoi são negadas dignidade e inteligência, e, acima de tudo, sua percepção do mundo. Se o verdadeiro escritor fosse tão ingênuo quanto o personagem diante da pobreza e corrupção que o cercava, ele provavelmente jamais teria escrito algo do porte de Guerra e Paz. Não é raro quando grandes figuras históricas se transformem em personagens de cinema um tanto desumanizados, sejam herois, mártires ou o que convier. Aqui não é muito diferente. O excesso de zelo de Hoffman por seus personagens, na maior parte do tempo, impede que ele se aprofunde nas contradições e fraquezas que sublinham a condição humana dessas pessoas. Apesar disso, Plummer e Helen, ambos indicados ao Oscar por esse filme no ano passado, conseguem, boa parte do tempo, romper essa barreira entre o sacro e profano, o real e o idealizado. Quando ela faz malabarismos para ouvir conversas e cai, a atriz nos faz lembrar que Sonia, como todos nós, é cheia de fragilidades e comete erros - mesmo que sejam por uma boa causa. É exatamente essa contradição que, às vezes, falta ao filme." (Alysson Oliveira)
''A Última Estação'' adota um tom desde cedo bastante explícito: leveza, algum humor e didatismo. São opções feitas pelo diretor Michael Hoffman para dar um caminho ao filme, potencializar seu relato da maneira mais agradável possível. Isso logo reflete na dualidade que a narrativa impregnada gera na relação filme-espectador. Da metade para o final, o filme altera bruscamente o discurso, saindo de uma narrativa aprazível para uma mais rigorosa com o que o tema pede, pesando mais no drama – velha história da decadência/degradação de um mito. Contar a história dos “últimos dias” de Tolstoi e toda sua complexidade exigia essa apuração desde o início, não uma mudança de ritmo tão desregulada. Ou seja, o filme que começa não é o mesmo que termina. E o que termina é muito mais consciente de sua abordagem: é mais carnal, mais “desejante”, mais íntimo. A relação que se desenvolve com o filme passa a ser mais problemática, mais potente (deixa-se de lado a pompa artística na pretensão de criar belas imagens/paisagens; passa-se a encarar o filme, o cinema e o mundo). O que antes parecia não fugir de uma experiência limítrofe torna-se num objeto de apreço por seu material humano. Tolstoi, o mito, é descrito mais próximo de sua austeridade. O filme começa já no derradeiro ano de vida de Tolstoi (Christopher Plummer), 1910. Adepto das coisas poucas, do celibato (mesmo que tenha tido filhos após assumir essa posição; mas ele mesmo diz numa cena não seguir corretamente as coisas que fala) da resistência passiva, do não luxo, o escritor vive com a família numa grande casa de sua propriedade (a esta altura, aos 82 anos, ele já era contra a propriedade privada, o que enlouquecia sua mulher). Como os próprios créditos iniciais dizem, era tido como um santo vivo. Sua esposa Sofya Andreyevna (Helen Mirren) discorda dessa sua postura perante as coisas que, segunda ela, foram conquistadas com muito trabalho. Sofya criticava o marido por suas posições filosófico-políticas e sua doutrina de desapegado a bens materiais, compartilhada com o amigo Vladimir Chertkov (Paul Giamatti), com quem fundou o movimento tolstoiano. Sofya suspeitava que os dois pudessem estar escrevendo um testamento que colocaria toda a obra de Tolstoi nas mãos do público. Ideias não menos coerentes com os ideais do escritor, que diz a certa altura não escrever para editores, e sim para o povo. Chertkov, sabendo da desconfiança de Sofya, manda o jovem escritor Valentin Bulgakov (James McAvoy) para ser seu confidente e responsabilizar-se pela correspondência entre Tolstoi e ele, bem como informar-lhe sobre os movimentos de Sofya. Material humano não é um problema já que tratamos de personagens reais. Basta então saber aproveitar as possibilidades de investigá-los, de tirar-lhes de uma zona de conforto e convidá-los ao enfrentamento para com seus próprios demônios. Nesse sentido, Hoffman aproxima seu filme de uma imagem anticlássica, menos romântica, mais fiel à realidade sem necessariamente afundar-se nela (o filme é falado em inglês, mas os cenários, as fachadas, os jornais, estão em russo). Não existem heróis ou algozes em A Última Estação, o que impulsiona o filme para além do registro de bem ou mal, do certo ou errado. Tanto Sofya quanto Chertkov são ambos protagonistas. Isso se torna evidente com a mudança que o filme assume – bastante inadequadamente. No início Sofya parecia estar contra o próprio marido, era tida por Chertkov como um empecilho ao projeto que mantinha com Tolstoi de tornar sua obra pública através de um testamento. Depois, é Chertkov quem desrespeita as vontades do escritor. Nestes dois momentos, o retrato é, antes de caricato, humano: seres falíveis, expostos ao erro, ao equívoco, a ignorância. Não é aqui que residem os problemas do filme. O filme está lá, a história foi contada, o mito foi reverenciado. Faltou estudá-lo. O material discursivo do filme é centrado justamente nos últimos dias, o que constitui duas armadilhas: Tolstoi (Homem, cristão ou santo, seja qual for o olhar) foi muito complexo para um registro caricato (e nesse sentido a interpretação de Plummer não coopera muito, ganhando a tela mesmo somente quando já está doente) e, principalmente, deixar-se seduzir pela grandeza do personagem e reduzi-lo a um momento dramático (sequência toda na estação de trem) enquanto a profusão das ideais do movimento tolstoiano ganham apenas recortes de jornais. James McAvoy, como Bulgakov, empresta ao filme boas cenas (especialmente a da perda de sua “santidade” e do primeiro encontro com o grande escritor), assim como Helen Mirren nos traços de Sofya. A Última Estação até alcança certo equilíbrio na metade final, quando já é tarde demais, quando sua fragilidade já havia há muito transparecido. Antes, suas células já haviam se deteriorado." (Tudo é Critica)
82*2010 Oscar / 67*2010 Globo - DirectorJean-Pierre MelvilleStarsJean-Paul BelmondoEmmanuelle RivaIrène TuncSet during occupied France, a faithless woman finds herself falling in love with a young priest.LÉON MORIN - O PADRE
{Deus, conceda-me um desejo uma unica vez, apenas desta vez e depois me condene ao eterno tormento} (ESKS)
Jean-Pierre Melville não se chamava Melville, mas Grunbach. Adotou o nome em homenagem ao autor de "Moby Dick". Foi, de todos os cineastas, o que mais filmou à americana, isto é, direto, sem retórica, com capacidade de captar os detalhes do cotidiano. Seu Leon Morin, Padre", classificação indicativa não informada) é, no entanto, uma espécie de contraprova de como seus filmes eram muito franceses em sua essência, isto é, não poderiam ser senão franceses, ainda que abordem esse universo policial tão a gosto do cinema americano. Em Leon Morin, as coisas mudam um pouco, pois a trama gira em torno da jovem Barny (Emmanuelle Riva), que, embora não seja crente, apaixona-se pelo padre de uma cidade interiorana. Talvez não fosse de estranhar, já que o padre é Jean-Paul Belmondo. O fato é que estamos aqui nesse terreno tão caro às letras francesas, que é a prova de fé." (* Inácio Araujo *)
''Leon Morin, o Padre" não é o que se pode esperar de um filme de Jean-Pierre Melville. E, no entanto, é um belo filme. Ali, uma garota ateia confronta o padre Morin. O padre é Jean-Paul Belmondo e a época, a Segunda Guerra.'' (** Iácio Araujo **) - DirectorJean-Gabriel AlbicoccoStarsMarie LaforêtPaul GuersFrançoise Prévost{Sonho com outras mentiras. Mentiras assustadoras, que estou morto. Gotas de chuva furam o jazigo, me tocam e acordo} (ESKS)
1962 César - DirectorMichael WinterbottomStarsTim RobbinsSamantha MortonOm PuriA futuristic Brief Encounter (1945), this is a love story in which the romance is doomed by genetic incompatibility.CÓDIGO 46
"A origem da ficção científica se encontra nas novelas sobre explorações de terras desconhecidas do século 17. A história sobre uma ida à Lua de Júlio Verne é ficção científica não porque eles viajam num foguete, mas devido ao lugar que eles vão. Ainda seria ficção científica mesmo se eles tivessem sido lançados por uma corda elástica." Portanto, segundo Philip K. Dick (1928-82), cujos livros inspiraram Blade Runner e Minority Report e que conhece uma ou duas coisas sobre o assunto, "Código 46" é ficção científica. Não há robôs ou naves ou um mundo totalmente diferente. É ambientado num futuro bem parecido com o nosso presente e trata, basicamente, do mesmo tema de Neste Mundo, o outro filme de Michael Winterbottom que entra em cartaz: a imigração. A história é complexa e por vezes um tanto confusa; e, se em certas partes o filme dá a impressão de que seguirá sem rumo definido, Winterbottom segura as rédeas e o roteiro flui. O tal ''Código 46'' que dá título ao filme é uma lei criada para evitar que pessoas com DNA semelhantes procriem. Num mundo em que clonagem e fertilização in vitro tornaram-se negócios tão normais quanto o parto por cesariana, o risco de ocorrer relações sexuais entre humanos com os mesmos genes é muito grande. É neste universo que vive William Geld (Tim Robbins), um investigador que fora incubado com o vírus da intuição e que é capaz de descobrir detalhes da vida das pessoas a partir de pequenas pistas. Ele, que vive com a família em Seattle, é chamado para uma missão em Xangai: descobrir quem está fraudando vistos de permissão de viagens. Pausa. Neste mundo de "Código 46", o que existe (o que importa) são as metrópoles, como Xangai, Londres, Nova Déli, Seattle, há até citação a São Paulo. É um mundo desenvolvido, tecnológico. Fora delas, a paisagem é outra: grandes desertos, pobreza, atraso. Quem está fora quer entrar. O acesso às cidades -e entre elas- é controlado por vistos -chamados aqui de "papelles", no que é uma das boas sacadas do filme: a inserção de palavras em espanhol, francês e até árabe dentro da dominante língua inglesa. Voltando: quando Geld chega a Xangai, se apaixona por Maria Gonzales (Samantha Morton), a funcionária da empresa que concede os vistos; e, claro, a responsável pelas falsificações. Ela vende os vistos a pessoas que vivem fora das metrópoles e que estão impossibilitadas, por um motivo ou outro, de viajar para essas regiões. A partir daí, o longa de desenrola por um roteiro que engloba violações ao ''Código 46'', aborto, clonagem e fuga. Tudo filmado sem economias por Winterbottom: são planos longos, nada claustrofóbicos, que lembram bastante o Wim Wenders de "Asas do Desejo". É um futuro sombrio e rude, este, mas filmado de forma inquietante e lírica." (Thiago Ney)
{Num amigo você deve ter seu melhor inimigo. E deve estar mais proximo dele quando a ele resiste} (ESKS)
Dirigido por Michael Winterbottom, dos excelentes Bem-Vindo a Sarajevo e A Festa Nunca Termina, e do ainda inédito no Brasil In This World (vencedor do Urso de Ouro de Festival de Berlim do ano passado), “Código 46” é um filme bastante interessante. Selecionado para a competição oficial do Festival de Veneza, este traz, além de uma competente direção de Winterbottom, excelentes atuações, principalmente da dupla principal, Tim Robbins (Sobre Mininos e Lobos) e Samantha Morton (Terra dos Sonhos). A trama gira em torno de William (Robbins), um homem casado que trabalha como investigador de seguros e que é enviado à China para investigar um caso de fraude em uma empresa segurada pela sua. Ao investigar o caso, William descobre que a responsável pelas fraudes é Maria (Morton), mas não a entrega às autoridades, pois neste momento já estava apaixonado. Sendo uma mistura de Encontros e Desencontros com Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembrança, o filme se passa no futuro, e merece ser conferido também pela plausível visão que passa deste futuro. Nada de carros voadores, o que vemos em “Código 46” são celulares mais modernos, portas acionadas por impressão digital e passes para entrar em cidades (inclusive a fraude falada acima se diz respeito à esses passes de entrada). Infelizmente o longa-metragem não chega a ser uma obra-prima, como são os filmes supracitados de Sofia Coppola e Michel Gondry, mas consegue cumprir bem sua premissa, funciona como um bom drama futurístico. Sobre o título, “Código 46” diz respeito à uma norma jurídica, que regula a relação entre as pessoas, com o objetivo de não deixar que pessoas com um grau de parentesco elevado tenham filhos. O roteiro foi escrito pelo companheiro de sempre de Michael Winterbottom, Frank Cottrell Boyce, que conseguiu realizar um bom trabalho. O longa destaca-se também pela interessante trilha sonora, que conta com a bela canção Warning Sign, além das clássicas No Woman No Cry e Should I Stay or Should I Go. Esta última inclusive resume bem o que se passa na cabeça de William, que não sabe o que fazer da vida, se fica com Maria e tem uma vida imprevisível e sem segurança, ou se volta para sua rotina do dia a dia, com sua mulher e seu filho.'' (Lucas Salgado)
2003 Lion Veneza - DirectorMcGStarsReese WitherspoonChris PineTom HardyCIA agents and best friends Franklin and Tuck discover that they are in love with the same woman. Each of them then decides to win her over by using their own skills."Nada original, próximo do fim o ritmo cai um pouco (nunca como no irregular Sr. e Sra. Smith), mas a enérgica direção de McG, sempre incentivando o entrosado trio principal e a inspirada Chelsea Handler a improvisar, tornam a experiência muito divertida." (Rodrigo Torres de Souza)
"McG consegue driblar os problemas do roteiro com bons manejos cinematográficos, conciliando o dinamismo com o bom humor e carisma de seu trio central. Nada demais." (Marcelo Leme)
"A fórmula todo mundo já conhece, mas não é que foi divertidinho?" (Rodrigo Cunha)
"Filme de sessão da tarde melhor que o esperado, apesar de não se destacar em nenhum ponto." (Josiane K)
Quem vai ficar com Reese?
''Há uma parceria de gêneros que anda fazendo sucesso no cinema americano já há certo tempo e rendendo, além de um bom retorno nas bilheterias, oportunidades para a promoção de novos atores ascendentes, ou servindo para ressuscitar a carreira de outros atores outrora famosos. Trata-se da parceria entre o cinema de ação puramente comercial, que atrai em especial o público masculino, com as comédias românticas que tanto agradam às mulheres. Unem-se as fórmulas clichês desses dois estilos de filmes sob o comando de um elenco de rostos bonitos e cheio de carisma e pronto, o objetivo financeiro muito provavelmente será alcançado – como foi o caso de trabalhos irregulares, porém suficientemente divertidos, como Encontro Explosivo (Knight & Day, 2010) e Par Perfeito (Killers, 2010).Essa união do útil ao agradável tão bem aproveitada em filmes como True Lies (idem, 1994), de James Cameron, hoje está tão na moda que já perdeu boa parte da graça, de modo que seu objetivo principal se resume a promover atores e nada mais. ''Guerra é Guerra'' (This Means War, 2011), exemplo perfeito recente, nada mais é do que uma tentativa de relançar Reese Whiterspoon ao estrelato enquanto atrai olhares para dois atores-aposta em Hollywood, Tom Hardy e Chris Pine. E embora não passe de um amontoado de piadinhas divertidas derivadas de uma premissa inicialmente interessante, Guerra é Guerra cumpre bem com seu objetivo de entreter ao mesmo tempo em que coloca em evidência os três nomes que encabeçam seu elenco. Os melhores amigos Tuck (Tom Hardy) e FDR (Chris Pine) são agentes secretos da CIA que acabam se apaixonando pela mesma garota, Lauren (Reese Whiterspoon). Tuck é mais pacato e sonha em ter uma família, enquanto FDR é um solteirão convicto que entra em desespero ao se descobrir verdadeiramente apaixonado por Lauren. Enquanto a moça não se decide com qual ficar, os dois deixam de lado qualquer vestígio de amizade e usam irresponsavelmente os recursos mais tecnológicos da agência secreta para sabotarem as oportunidades um do outro com a garota. Enquanto isso, um terrorista internacional perigosíssimo decide voltar para se vingar seu irmão, morto por Tuck e FDR. Embora não haja qualquer estrutura no roteiro, apenas uma sucessão de piadas simpáticas onde os dois amigos se matam pelo amor de Lauren, Guerra é Guerra é inteiramente sustentado pelo talento de seu trio principal de atores, que estão ali mais para se divertir do que qualquer outra coisa. É um trabalho que exige o máximo possível do carisma de seu elenco, e nesse quesito não decepciona. Tom Hardy, em evidência desde sua participação eficiente em A Origem (Inception, 2010), deixa de lado a imagem de carrancudo e abraça sem medo o papel de um cara sensível e cavalheiro. Chris Pine finalmente deixa de interpretar um bom moço e se sai bem como o típico garanhão das comédias românticas, que vai ganhando a aprovação do público conforme vai se mostrando vulnerável diante do amor. Reese, por fim, o pivô desse triângulo amoroso, volta à boa forma com um papel super bobo, mas que ganha vida graças à sua simpatia nata. Fora isso, há os mesmos clichês essenciais de sempre tanto em uma comédia romântica como em um filme de ação, como o vilão russo calculista e vingativo, a melhor amiga debochada da mocinha (um trabalho baseado basicamente nas improvisações chulas de Chelsea Handler), a imagem banalizada dos agentes da CIA, a missão no início da trama que dá errado e obriga a dupla de agentes a se empenhar em consertar e etc. A única questão não presente nesse pacote de clichês é a respeito da decisão de Lauren sobre qual dos dois namorados escolher. Querendo ou não, essa é a dúvida que prende a atenção do espectador até o fim da projeção, nos levando a aguentar momentos de pouca inspiração, algumas piadas sem a menor graça e a falta de fôlego que acomete a produção a partir da metade – mas pelo menos há a garantia de um final bem divertido. McG, o mal afamado diretor de filmes como As Panteras (Charlie’s Angels, 2000), faz em Guerra é Guerra o que qualquer diretor de seu naipe faz de melhor – ganhar dinheiro. Pelo menos ele faz isso sem subestimar a inteligência do espectador e garante uma sessão que agradará em cheio tanto o público masculino como o feminino, além de indiretamente colaborar para que atores de talento ganhem a atenção que merecem, abrindo assim novas portas para projetos futuros mais interessantes para todos os envolvidos. Exigir mais que isso seria ingenuidade, então só nos resta sentar, assistir e descobrir quem é o sortudo a ganhar o coração da bela Reese Whiterspoon no final da história." (Heitor Romero)
Mais uma comédia romântica de ação onde tudo é rápido e fugaz como uma ejaculação precoce.
''Há um mês, quando Chris Pine trocou de agência e foi processado por seus ex-representantes, vazaram na rede os ganhos do ator: US$ 3 milhões por Incontrolável, US$ 1,5 milhão pelo vindouro Star Trek 2 (mais percentual de bilheteria) e expressivos - na crise atual - US$ 5 milhões por ''Guerra é Guerra!''. Como Pine coprotagoniza a comédia romântica de ação do diretor McG ao lado de Reese Witherspoon e Tom Hardy, os salários dos outros dois devem estar nesse patamar - valores acima do que Hollywood paga hoje em dia para atores no mesmo nível. Depois de assistir a Guerra é Guerra!, o investimento faz sentido; é um filme de atores que, não fosse o carisma do trio, seria difícil de assistir. Se as famosas dicas da revista Nova fossem um roteiro, seria bem parecido com o fiapo de história escrito por Simon Kinberg - não por acaso roteirista de outra comédia romântica de ação com trama mínima, Sr. e Sra. Smith. Em Guerra É Guerra!, Pine e Hardy são agentes da CIA e melhores amigos que se apaixonam pela mesma mulher (Witherspoon) e viram rivais. Há um vilão russo no meio (feito pelo alemão Til Schweiger), mas não acho que seja spoiler dizer que ele não se apaixona por ninguém. Quando o personagem de Pine encontra Witherspoon numa locadora e usa o xaveco do pseudointelectual (Alugue A Dama Oculta de Hitchcock! Tem um pouco de tudo: romance, humor, suspense", diz ele) já fica claro que ''Guerra É Guerra!'' é desses produtos que aceitam também um pouco de cada um desses gêneros para atrair todas as demografias. Até aí, é uma estratégia legítima de mercado. O problema é o elogio do impessoal, do anestesiante. Sshhh, para de pensar um pouco, sussuram no filme os amantes quando a coisa esquenta. Dizem que no amor e na guerra não há regras, mas McG segue uma lei, a da ação sem intermissão. Então as injeções de adrenalina são constantes mesmo nas situações mais banais (ela leva um dos pretendentes pra conhecer seu trabalho e eles brincam de jatos de água) e efêmeras (Sabotage, dos Beastie Boys, toca por dois segundos apenas, o tempo de animar, sublinhar a cena de sabotagem entre os rivais, e ser esquecida). A grande questão é que nada dura em ''Guerra É Guerra'' por muito tempo, nem a fantasia. É um filme visivelmente feito para alimentar um fetiche do que a mídia imagina ser a mulher moderna - desejosa de altas emoções e ao mesmo tempo antiquada - mas essa suposta modernidade é uma ilusão. Com sua composição que sem dúvida dá corda ao fetiche (Chris Pine e Tom Hardy sangrando suados e sujos assistindo às conversas íntimas das mulheres), Guerra É Guerra em seguida anula essa fantasia ao defender a moral e os bons costumes (ela se martiriza antes de transar com os dois e, desde o começo, já fica claro quem ela escolherá). Nessa linha atual de comédias românticas de ação, Encontro Explosivo continua imbatível, justamente por ser um filme que abraça essas noções de revista feminina (o homem idealizado, a ação sem fim) enquanto ironiza-as. ''Guerra É Guerra'' não tem a mesma inteligência." (Marcelo Hessel)
"O novo longa de Reese Witherspoon (que esteve no Brasil para promovê-lo) é um misto de comédia, romance e ação que usa e abusa dos clichês dos filmes de espionagem, não aprofunda os conflitos dramáticos e também não se leva a sério, por isso mesmo cumpre o que promete: levar ao público hora e meia de puro entretenimento. ''Guerra é Guerra'' tem inúmeros delizes, mas funciona a contento e a boa interação entre os atores faz com que a história flua bem e conquiste a atenção do espectador. Reese interpreta Lauren Scott, uma mulher que avalia produtos para consumidores e está em busca de sua cara-metade depois de ter sido abandonada por um antigo namorado. Quando sua melhor amiga faz um perfil seu em um site de relacionamentos, ela conheceo Tuck (Tom Hardy, de A Origem), aparentemente um agente de viagens pacato e romântico, e FDR (Chris Pine, de Star Trek), um bon vivant galanteador que faz de tudo para convencê-la a sair com ele. O que Lauren nem imagina é que Tuck e FDR se conhecem, são melhores amigos e trabalham juntos. Mais: são agentes da CIA. Quando descobrem que estão interessados pela mesma mulher, os espiões passam a competir e utilizam os recursos da agência para sair em vantagem em relação ao outro. Para justificar as cenas de ação, uma subtrama com o mais batido dos clichês: antagonista russo maldoso e descerebrado em busca de vingança. Felizmente a trama improvável é conduzida pelo diretor McG (As Panteras), que não é exatamente conhecido por sutileza ou densidade cinematográfica, mas sabe nos mergulhar rapidamente na descrença absoluta e, por isso mesmo, encaramos sem compromisso na trama. Afinal, se o espectador for levar a sério agentes da CIA que moram em apartamentos de luxo com direito a piscina no teto, podem usar a tecnologia da agência de inteligência à vontade para resolver problemas pessoais, têm acesso exclusivo às obras de Gustav Klimt e conseguem um circo particular com globo de espelho no teto para românticas aulas de trapézio (?), vai sair da sala antes de terminada a sessão. A máxima você já viu um, viu todos se aplica a ''Guerra é Guerra'', mas, apesar de bastante previsível, o longa é bem assistível. Entretenimento descompromissado para casais de namorados que não estão procurando nada sério." (Roberto Guerra) - DirectorJosh TrankStarsDane DeHaanAlex RussellMichael B. JordanThree high school friends gain superpowers after making an incredible discovery underground. Soon they find their lives spinning out of control and their bond tested as they embrace their darker sides."O formato em tom documental foi péssima escolha, pois demonstra-se forçado (as cenas com a namorada, particularmente, são destestáveis) e nada acrescenta ao roteiro interessante de Max Landis. O argumento é seu maior triunfo e faz valer a recomendação." (Alexandre Koball)
"Tem uma história bem conduzida, levanta questões interessantes e explora de forma bacana o que poderia acontecer caso adolescentes ganhassem poderes, mas é quase arruinado pelo estilo 'found footage'. Seria muito melhor se filmado de modo tradicional." (Silvio Pilau)
"Com roupagem de aventura teen, o filme vai muito além ao permitir reflexão sobre pontos como o uso do poder (em todos os sentidos) e o domínio e o controle do Homem sobre evoluções conquistadas. Tudo em conflito com o lado animal do ser." (Emilio Franco Jr)
"Curioso notar que a primeira demonstração de raiva de Andrew seja mutilar a aranha que simboliza um super-herói que busca o uso responsável de seus poderes. Grata surpresa, mas não contorna plenamente a problemática da câmera subjetiva." (Rodrigo Torres de Souza)
"Filme de herói com muito a dizer!" (Marcelo Leme)
O que de fato aconteceria se um adolescente ganhasse poderes especiais.
''Pense na seguinte hipótese. Você é um adolescente, que depois de ser picado por uma aranha, passou a desenvolver poderes anormais inexplicáveis. Sua primeira reação seria pensar em usar esse “dom” para combater o crime na sua cidade violenta, pulando de arranha-céus e salvando velhinhas indefesas das mãos de bandidos vestidos com roupas de borracha moldadas no corpo, certo? Não, errado. Na verdade, se você é um garoto em idade escolar e descobre que tem poderes tele cinéticos, seu primeiro impulso será levantar as saias de um grupo de meninas passando no corredor do colégio, ou arremessar contra a parede aquele cara insuportável que faz da sua vida um inferno. Sim, como podemos notar em Poder sem Limites (Chronicle, 2012), os super-poderes nas mãos de um típico adolescente americano renderiam histórias diferentes daquelas que vemos em filmes como Homem-Aranha (Spider-Man, 2002). ''Poder Sem Limites'' tem propostas claras e bem diferentes do que estamos acostumados em filmes desse gênero. Suas escolhas narrativas e sua sinopse podem parecer batidas, mas na prática o resultado é outro. Primeiramente, é filmado no famoso formato popularizado por A Bruxa de Blair (The Blair Witch Project, 1999), onde os atores manuseiam as câmeras, resultando na constante trepidação das imagens, enquadramentos desfocados e ar de produção independente e barata. É um formato que, por mais interessante que pudesse parecer em 1999, com o tempo foi ficando tão desgastado e até banalizado, que atualmente seria difícil alguém usá-lo com algum propósito eficiente e fora do gênero de terror. Mas no caso de Poder Sem Limites, essa escolha não é meramente gratuita ou desnecessária; pelo contrário, é a grande sacada de toda a produção. Andrew é um garoto impopular e cheio de problemas na família, que compra uma câmera para filmar seu dia a dia e descarregar seus desabafos – o que nos serve para entender a fundo seus problemas pessoais logo de cara. Sua vida monótona ganha outros ares quando, junto com dois colegas de escola, ele acaba se aventurando dentro de uma misteriosa cratera aberta no chão de um vasto campo. O que de fato acontece dentro deste lugar ele não sabe, já que não se lembra de nada ao acordar no dia seguinte em sua casa. O curioso é que depois deste ocorrido, Andrew e os outros dois garotos passam a desenvolver poderes tele cinéticos (podendo movimentar objetos apenas com a força do pensamento). Há duas situações que se desenrolam deste ponto de partida. A primeira, mais leve e cômica, nos apresenta a adaptação dos garotos com seus novos poderes, que usam e abusam para se divertir (levantando saias de garotas, atacando objetos gigantes uns nos outros, assustando criancinhas etc.). O interessante é que, ao contrário dos filmes de super-heróis, os personagens de Poder Sem Limites não desenvolvem subitamente um patriotismo descabido e um senso de dever para com a sociedade que os motiva a combater o crime, nem nada parecido. Eles fazem exatamente o que qualquer adolescente faria nessa mesma situação – aproveitam e tiram o máximo de vantagens possíveis. E é dessa inconseqüente atitude de abusar do novo dom, que os rumos desta história passam a mudar. Nessa segunda situação, tudo vai ganhando um ar mais sério e violento, quando esses garotos se descontrolam e começam a apresentar um sério perigo às pessoas em volta. A cereja do bolo vem neste momento, quando finalmente a escolha do formato de câmera na mão tomada pelo diretor ganha um sentido. Agora que nossos protagonistas têm o poder de mover objetos com a mente, não é mais preciso ficar carregando a câmera de Andrew para lá e para cá – ela simplesmente ganha vida própria sob a influência dos poderes de seu dono. A partir deste ponto os enquadramentos ganham maior enfoque, os ângulos de filmagem se tornam ilimitados e, de repente, podemos acompanhar todo o desenrolar da história através de pontos de vista indescritíveis, mostrando assim a capacidade do diretor Josh Trank em aproveitar e inovar ao máximo essa técnica que já havia perdido a graça há tanto tempo. No fim das contas, é uma escolha que não apenas enriquece o filme, mas também um recurso essencial para que a história atinja seu ponto máximo. A dificuldade de todo jovem em assumir o controle das situações e saber respeitar seu próprio tempo é a grande lição latente por trás de toda a trama. O fato dos adolescentes da história possuírem poderes e não saberem como lidar com isso, só realça a idéia de que, de fato, é uma época complicada para lidar com tantas novidades e mudanças constantes (uma idéia trabalhada também, indiretamente, no super violento Kick-ass – Quebrando Tudo [Kic-ass, 2010]). Ao mesmo tempo, é a época para aprender a tomar o controle das situações da vida e deixar de ser levados por elas – quando finalmente aprendemos a tomar decisões e medir as conseqüências disso; o que, de uma maneira ou de outra, não deixa de ser um super-poder capaz de afetar todos a nossa volta. Afinal, a grande dificuldade de Andrew não era aprender a controlar seus novos poderes, e sim continuar tentando superar seus velhos problemas. E não é preciso ser um super-herói para entender e se identificar com esta situação." (Heitor Romero)
Filme de super-heróis com estética documental ousa em buscar qualidades pouco exploradas nos gêneros.
''É ótimo quando um gênero tradicionalmente avesso a novidades consegue entregar um filme surpreendente, que deturpa suas regras (ou expectativas). ''Poder Sem Limites'' (Chronicle, 2012), do diretor estreante no cinema Josh Trank (que co-escreveu o roteiro com Max Landis), é um desses casos. A produção emprega a estética da filmagem em estilo documental amador. Câmera na mão, tremida, operada pelos atores... normalmente uma muleta safada para justificar o baixo orçamento aliado a um suposto realismo que já não impressiona mais ninguém. Aqui, porém, a surpresa vem justamente do fato da estética ser uma opção e não uma máscara que encobrirá os defeitos e carências. ''Poder Sem Limites'', afinal, funcionaria como uma produção convencional. Mas a filmagem inicialmente amadora, com quadros que cortam as cabeças dos atores (que abundam no primeiro ato), dá uma proximidade que ajuda a entender os personagens. Andrew Detmer (Dane DeHaan), o principal deles, é o típico esquisitão nerd do colégio e lembra bastante o adolescente que filma sacolinhas esvoaçantes em Beleza Americana (tem até o problema com o pai). Seu primo metido a filósofo, Matt (Alex Russell), e o atleta Steve Montgomery (Michael B. Jordan), são mais populares, mas igualmente estereotipados dentro do universo das High Schools dos EUA que estamos tão habituados a ver nos cinemas. A ação começa quando os três, durante uma rave, encontram um estranho buraco que leva a um artefato subterrâneo. Banhados por sabe-se lá o quê, eles começam a desenvolver poderes telecinésicos. O filme aí vira uma espécie de Jackass, com os moleques treinando suas recém-descobertas capacidades da maneira mais pueril possível: aplicando pegadinhas, se jogando coisas na cara, levantando a saia das meninas... exatamente o que adolescentes desmiolados fariam se tivessem tal oportunidade. O desenrolar dos fatos é natural, verossímil e divertido - e a cinematografia acompanha. Conforme eles refinam seus poderes, começam até a manipular a câmera e o filme vai ganhando mais qualidade. Surgem também os efeitos especiais - ótimos - e fica claro que não estamos perante de um Atividade Paranormal 2, mas de algo mais perto de outro bom expoente do gênero, Cloverfield - O Monstro. E quando o clímax chega, fica a dúvida se a Warner Bros. precisa mesmo realizar uma adaptação para as telonas de Akira. A influência do animê e mangá de Katsuhiro Otomo é clara no trabalho de Trank, que a utiliza misturando câmeras de segurança, filmagens de celular, de notíciários em uma explosão de ação totalmente inesperada. Ainda que pareça um pouco barata a princípio, a filosofia também tem papel importante no filme e revela-se, no decorrer da trama, mais que uma alegoria de diálogo. Matt começa discutindo o papel do indivíduo na sociedade, favorecendo o eu em detrimento do todo, mas logo abandona essa ideia, partindo para uma abordagem menos romântica do tema - ainda que prática e fundamentada. Andrew, por sua vez, tem problemas em lidar com seu superego. Há estofo e embasamento na história e as pistas do começo do filme servem justamente como um alerta para que tais elementos sejam percebidos. Ousado esse Josh Trank... ''Poder Sem Limites'' desafia expectativas e, no caminho, prova que a fórmula batida do filme-de-origem-de-super-herói, pode também ser revista e que há muitos caminhos possíveis para o gênero, sem esquecer o mais importante deles: a profundidade emocional importa e quanto mais apego tivermos aos protagonistas mais doloroso será vê-los crescendo e enfrentando os dilemas do mundo real, deixando de ser jackasses para se tornar, para o bem ou para o mal, adultos." (Erico Borgo)
''Mockumentaries são filmes em forma de documentário, mas que na verdade não são reais. As situações mostradas são fictícias, só que mostradas como fatos registrados por um ou mais cinegrafistas que, nestes casos, também são os personagens principais. Poder Sem Limites é mais nova empreitada do gênero a chegar aos cinemas. Seguindo a carreira de seus antecessores, custou pouco e fez bonito nas bilheterias. Só que aqui, fato raro, os fãs do gênero câmera na não não vão sair do cinema frustrados e se sentindo enganados. O filme começa quando Andrew (Dane DeHaan), um rapaz comum e impopular no colégio, liga sua câmera e começa a fazer um documentário de sua vida particular, levando sua nova distração onde quer que vá. O roteiro não se preocupa muito em explicar porque ele resolve filmar tudo o que acontece em sua vida, mas fica implícito, se o público tiver boa vontade, um certo culto à própria imagem típico dos jovens atuais. Seu único amigo é o primo Matt (Alex Russell), com quem costuma sair para o colégio e para algumas festas. Num desses raros momentos de lazer, Andrew conhece Steve (Michael B. Jordan), aluno popular da escola que o convida para filmar uma gruta que ele e Matt encontraram. Ao explorar o local, o trio encontra um meteorito que pulsa e muda de cor quando se aproximam. A câmera sofre uma interferência e desliga. A partir daí, os jovens percebem que adquiriram superpoderes. Em sua primeira metade o filme segue em banho-maria mostrando os três se divertindo com os poderes que vão descobrindo ter. Mas é quando Andrew atinge o seu ponto de ruptura que ''Poder Sem Limites'' toma um rumo interessante, uma nova perspectiva de um jovem dono de poderes especiais. E se o controle for perdido? E se em vez de herói, se optar por ser vilão? Daí em diante a trama se encaminha para um desfecho trágico, numa mistura de duelo X-Men com a explosão de fúria de Carrie, A Estranha. Sim, o roteiro tem alguns furos difíceis de engolir e outros tantos mais aceitáveis. Ainda assim o diretor Josh Trank e o roteirista Max Landis (filho do diretor John Landis, de Um Lobisomem Americano em Londres) levam às telas um filme que está acima da média no gênero câmera subjetiva. Por sinal, a dupla de realizadores merece um elogio pela sacada de fazer o protagonista usar seus poderes para fazer a câmera levitar a seu redor em dado momento do filme. Isso livra a audiência da nauseante (e irritante) câmera tremida. O público adolescente, alvo do filme, vai curtir." (Roberto Guerra)
{O ser humano é um superpredador} (ESKS) - DirectorElia KazanStarsGregory PeckDorothy McGuireJohn GarfieldA reporter pretends to be Jewish in order to cover a story on anti-Semitism, and personally discovers the true depths of bigotry and hatred.Um filme que fala sobre a segregação judaica em plena Segunda Grande Guerra.
"Falar sobre o anti-semitismo desde o período pós-guerra passou a ser praxe da instituição cinematográfica em âmbito mundial. E tentativas de aculturação estão presentes em todas as artes, cujo objetivo é induzir seu público a reflexão ou promover o debate, que indubitavelmente o filme em análise consegue exitosamente. Com méritos, "A Luz é Para Todos" arrebatou três dos principais prêmios Oscar em 1947 – uma data propícia à abordagem do tema – um espaço de dois anos após o término da Segunda Grande Guerra. Retratando o preconceito étnico-religioso em pleno solo yankee, o que para início de muitas questões é um contra-senso incomparável com a ideologia da “liberdade” norte-americana, principalmente pelo fato de que os EUA estão econômica e culturalmente em dívida com os judeus, que representam majoritariamente as duas grandes fontes de orgulho americano: Wall Street e Hollywood. O filme narra a história de um Jornalista, Phillip Green (Gregory Peck), que é convocado por uma revista para fazer uma série sobre o anti-semitismo norte-americano, e para isso ele propõe se passar por judeu e sentir na pele a discriminação insossa e arrogante de seus conterrâneos, além de intrincar um romance do escritor com Kathy (Dorothy McGuire), sobrinha do presidente da revista. Phillip passa então a entrar em conflito com o que é ser judeu em terra inóspita, descobrindo o condicionamento humano que foi estabelecido por conceitos intrínsecos a uma cultura de acepção ideológica - inerente a WASP (White Anglo Saxion Protestant) - em que um indivíduo, sendo negro, índio ou professando uma fé não cristã, é motivo de vergonha social. O protagonista intui que para a eficiência de uma matéria não basta apenas fatos, estatísticas e dados afins para pungir a sociedade sobre o mal estar sócio-cultural gerado por ela, mas sim a assunção de uma identidade alvo que, através de tal alteridade e ainda por deter uma voz desengajada (não-semita), alcançaria resultados positivamente incisivos. "A Luz é Para Todos" tem uma coesão dramática polidamente arregimentada, consegue em plena era de ouro de Hollywood nos presentear com uma fábula urbana tematicamente madura. E, com efeito, vivenciamos o próprio conflito da personagem; Gregory Peck e todo o elenco apresentam uma perfeita e equilibrada interpretação mantida pela segura direção de ninguém menos que Elia Kazan. Ele foi o fundador (junto de Lee Strasberg) do Actor Studios, considerada a melhor escola de interpretação americana, enquanto Strasberg continuou no teatro, Kazan mudou-se para os estúdios e leva consigo sua técnica que mudará para sempre o modo de interpretação para cinema, tornando-a realista sem as afetações expressionistas e teatralizadas dos filmes da época. Contudo, o mérito de Kazan como diretor sempre se limitou a qualidade de direção de seu elenco e escolha temática, deixando a desejar como cineasta, isto é, seu trabalho cinemático ou estético sempre fora muito prolixo, prendendo-se as convenções narrativas e estilísticas já desgastadas ou então imitando técnicas de seus contemporâneos, ou no máximo adotando iconografias de gêneros específicos a cada tema abordado. É curioso o fato de que a película ainda apresente uma estrutura verborrágica ao estilo de um teatro filmado, com poucas cenas externas – conhecidamente como um Filme Falado, que contrasta com o Filme Sonoro europeu, numa década onde despontaram obras inspiradoras de dois grandes mestres do visual cinemático: Orson Welles e Alfred Hitchcock, que articulavam suas narrativas através dos meios específicos da linguagem fílmica sem depender dos diálogos, usando-os somente em casos necessários. É notável a discrepância estética deste filme, que ao invés de mostrar fatos ocorridos, esses são comentados em conversas – não prejudica o filme, mas o experimentamos de um modo diferente do habitual, que é admitido como estética e ontologicamente adequado à sétima arte. Destarte a polêmica não pára em seu conteúdo, mas se estende a fatos extrafílmicos. De início nos coloquemos no período da realização do filme, que se situa no final da década de 40, muito atribulada politicamente, lançando seus tentáculos para a década seguinte que colhera os danos do pós-guerra, chegando às manifestações do senado americano presidido por Joseph McCarthy, que intentava fazer a limpeza étnico-ideológica das instituições americanas. O que temos então é a mais ácida polêmica ocorrida no meio cinematográfico, em que fora convocado a prestar contas todo àquele que fizesse parte da engrenagem do mais poderoso meio de comunicação e aculturação: a indústria de Hollywood. Como todos, Elia Kazan também fora intimado e, contraditoriamente ao padrão ocorrido com os demais cineastas da época, se tornou conhecido como a pior serpente delatora de seus colegas que teriam hipoteticamente se envolvido com causas sociais regidas pela esquerda democrática do país em apoio aos que sofreram na Segunda Guerra. Pior contravenção não há, demagogia e hipocrisia passaram a ser eufemismos referentes a Kazan, naquele período, que anos mais tarde veio a se desculpar à imprensa por sua “falta”, se auto-intitulando fraco e covarde. Entretanto, a memória Hollywoodiana em relação a Kazan jamais se apagou. Não dá para assistir a um filme de Elia Kazan sem sentir as sombras da hipocrisia política; ora, quem prega algo tem que vivê-lo, não basta apenas discursar. Por fim, o filme ao menos vale por sua qualidade de expressão dramática, até mesmo por tratar de um tema tão recente à sua época. E em suma, o filme nos revela que basta alguém se importar com alguma causa e assim retrucar publicamente para que não possa haver nenhum resquício de conformidade ao chamado Racismo Cordial que, infelizmente, ainda existe sub-repticiamente na sociedade contemporânea." (Hallan Castro)
{Você é o que é com avida que tem} (ESKS)
{As vezes quando estamos confusos e magoados, nos dedicamos ao que não pode nos magoar} (ESKS)
20*1948 Oscar / 05*1948 Globo / 1948 Lion Veneza - DirectorJean-Pierre AmérisStarsBenoît PoelvoordeIsabelle CarréLorella CravottaJean-René, owner of a chocolate factory, and Angélique, a talented chocolate maker, are too shy to admit their love for each other. Will they come together thanks to their common passion?''Quem já não ficou em pânico diante de alguém por quem se sente atraído? Mãos suadas, palpitações e gagueira são sintomas típicos dos apaixonados mais tímidos. Agora, eleve tudo isso ao cubo e terá uma ideia aproximada dos problemas de Angélique (Isabelle Carré) e Jean-René (Benoît Poelvoorde). Ele, dono de uma fabrica de chocolates à beira da falência. Ela, uma chocolateira excelente, mas que por sua dificuldade de se relacionar com seus pares não consegue ter uma carreira de sucesso. O encontro dessas duas pessoas com problemas para lidar com o mundo, e entre elas mesmas, é a base do delicioso ''Românticos Anônimos'', do francês Jean-Pierre Ameris. Delicioso aqui não é força de expressão. A fabricação de chocolate - esta maravilha que comemos quando estamos felizes, comemos quando estamos tristes - serve de pano de fundo para a história, cenário ideal para as desventuras do casal. São de encher os olhos e fazer o espectador salivar as cenas envolvendo a guloseima, a forma como eles desenvolvem novos sabores de chocolate, descrevem minuciosamente cada um deles, o gosto, a sensação que causa na boca, tudo isso faz de Românticos Anônimos um filme que se assiste e degusta ao mesmo tempo. Diferente da maioria das comédias românticas produzidas em massa em Hollywood, todas sempre muito iguais, a produção mostra ser possível fazer algo interessante mantendo a proposta de humor romântico. E tudo sem apelo sexual exagerado e piadas de mau gosto. A profundidade dos personagens e suas atuações fazem do longa uma joia rara em meio ao cascalho. A história é conduzida de tal maneira que os protagonistas se tornam pessoas reais, muito em função da química entre Poelvoorde e Carré, ambos perfeitos como dois emotivos incorrigíveis. Para completar, um bom elenco de apoio a dar suporte à trama. ''Românticos Anônimos'' tem roteiro espirituoso e inteligente, personagens simpáticos e, acreditem, pouco importa se é possível prever o desfecho da história nos primeiros 15 minutos de projeção. Quando chegar lá, você estará encantado. Leve, sutilmente engraçado e comovente, é perfeito para se ver com quem se ama e, de preferência, com uma caixa de chocolates do lado." (Roberto Guerra)
“A diferença do chocolate para os outros doces é que ele traz o amargor disfarçado, declara Angélique Delange, personagem da atriz Isabelle Carré em “Românticos anônimos”. O amargor experimentado por ela não é de ordem gastronômica. Mais subjetivo, chama-se solidão. Solidão imposta por sua falta de traquejo social, associada a uma síndrome de pânico que dispara como um alarme de incêndio quando ela se torna foco das atenções. Dirigida por Jean-Pierre Améris, a produção franco-belga conquista pela delicadeza com que é tratado o atravancamento emocional, subproduto da timidez patológica que desconcerta o casal de protagonistas. Em busca de trabalho, a chocolateira Angélique vislumbra uma oportunidade na fábrica de chocolates do misantropo Jean-René Van Den Hugde (Benoît Poelvoorde, soberbo). O negócio está à beira da falência, e o que vier é lucro, inclusive um possível prejuízo. Angélique é a pessoa perfeita. Não para o cargo a que atendeu – ela é uma chocolateira excepcional, que esconde seus dotes com medo do reconhecimento, porém, foi contratada como vendedora –, mas para o contexto. Jean-René sofre de inadequação parecida com a de sua nova funcionária. Sem o menor pendor para lidar com gente, ele esconde numa carcaça de austeridade um espírito sensível. Eles encontram na bizarrice ingênua do outro um rachadura por que atravessar, e a aproximação é estimulada pelos constrangimentos da, digamos…, falta de prática. Mas a timidez tem tratamento, ora essa! Não pode ser motivo para impedir a felicidade. Angélique busca auxílio nos Emotivos Anônimos – disque 0 800 aguenta, coração! Exatamente o que você está pensando… Uma versão dos Alcoólicos Anônimos, mas para refratários à entrega, sabotados por suas disfuncionalidades sociais. Dependentes de trocas, que fogem delas com medo da decepção. Românticos incompreendidos, com nervos à flor da pele, que reprimem seus verdadeiros desejos e transparecem, nos momentos de tensão, os comportamentos mais curiosos. Como desmaiar ao admitir seu problema. Já Jean-René expurga seus traumas no divã do psicanalista, que tenta soltá-lo utilizando-se de exercícios de desembaraço. A terapia de grupo com os emotivos e a fé em Freud podem dar um empurrãozinho, mas se jogar nos braços da pessoa amada pode ser uma tarefa complexa, que desafia os doze passos e o que estiver embrenhado no inconsciente mais profundo. Nessa confusão sentimental, a paixão pelo chocolate, extravasada em verdadeiros rituais fisiológicos de fruição da gostosura – a exemplo do que era proporcionado pela talento culinário da personagem de Juliette Binoche em “Chocolate” (2000), de Lasse Hallström –, permite que Angélique e Jean-René desfrutem de sensações (verdadeiros orgasmos gastronômicos) que deveriam ser curtidas na cama, não no tacho. Sensações de que foram privados quando não conseguiram evitar a retração na concha da timidez autodestrutiva. Nessa história de amor inusitada, que tinha tudo para dar desastrosamente errada, a paixão inocente que brota num casal maduro, gaguejando na comunicação afetiva e se acertando nos erros, encanta pela sensibilidade, traduzindo no comportamento (destrambelhado) e nos gestos (ora reticentes, ora amadoramente intensos) – de maneira divertidamente desprovida de malícia ou interesses egoístas – o que não era resolvido pelas palavras. Por sua estupenda atuação, conjugando autoconfiança, ingenuidade e doçura, sempre ao som de I have confidence (trilha sonora de A noviça rebelde, 1965), Isabelle Carré foi indicada ao César 2011, o Oscar francês." (Carlos Eduardo Bacellar)
2011 César - DirectorMichael HanekeStarsUlrich MüheSusanne LotharNikolaus ParylaWhen a land surveyor arrives at a small snowy village, local authorities refuse to allow him to advance to the nearby castle. Increasingly complicated bureaucratic obstacles arise.O CASTELO
''O Castelo'' (1997) é um filme que não foi visto. Pouco se encontra de comentários e críticas a respeito do título de Michael Haneke. Alguns sites especializados chegam a ignorá-lo ao elaborar filmografias do cineasta alemão. Duas explicações para isto podem ser facilmente identificadas: primeiro, foi lançado no mesmo ano de Violência Gratuita (1997), que acabou se tornando uma das principais referências de Haneke; segundo, trata-se de uma versão do livro homônimo de Franz Kafka, e a resistência em relação a adaptações de grandes escritores é plenamente natural. Quem conhece as produções de Haneke sabe de sua predileção por formatos ousados e de seu flerte com o surrealismo. Por isso, a escolha da obra de Kafka é atraente. Assim como seus grandes clássicos O Processo e A Metamorfose, esta é uma história sustentada por uma grande e complexa alegoria e dotada de uma subversão que foi transferida para o filme. A trama é simples: K. (Ulrich Mühe) é um agrimensor enviado a um vilarejo (de localização indefinida, como é de praxe) a trabalho. Lá, descobre a existência de um castelo misterioso, ao qual apenas alguns privilegiados têm acesso. Ele decide conhecer o lugar a todo custo, mas logo percebe que a tarefa não será fácil. O que é o castelo? Por que K. quer tanto chegar até lá? Por que há quem tente impedir que ele consiga? Se não o querem lá, quem o mandou e por quê? Essas perguntas tornam-se inevitáveis e, em um determinado momento, perturbadoras (como manda o bom cinema hanekiano). Ilude-se quem pensa que as respostas virão mastigadas em uma reviravolta final. Não, não se trata de um policial americano insosso. As dúvidas permanecem sem esclarecimento mesmo após o término do filme, inclusive porque acaba antes do fim da história (assim como o livro). ''O Castelo'' tem suas qualidades. Haneke é impecável na direção de atores. Encontramos atuações consistentes até nos papéis secundários. E é preciso registrar que o diretor faz algo raro: incluir um elemento que dê à narrativa uma dose de humor, ainda que bem leve. Essa função é cumprida pelos assistentes de K. (Frank Giering e Felix Eitner). Apenas quando o colocamos ao lado de outras obras de premissa semelhante, como por exemplo A Professora de Piano (2001), é que percebemos suas fragilidades. Apesar de estarmos próximos do personagem em seu conflito, sua personalidade não é suficientemente explorada, assim como as situações que se apresentam em sucessão. Por isso, falamos de um filme que aos poucos se torna tedioso, abstrato e vazio. Faltou-lhe choque, poder e agressão. Faltou-lhe, portanto, as especialidades de Michael Haneke." (Pedro Garcia)
{É difícil se acostumar com a felicidade em todos os cantos} (ESKS) - DirectorTerence YoungStarsKim NovakRichard JohnsonClaire UflandA bawdy story of how a poor damsel surrenders her virtue again and again to get to the top of society.{Esta certissimo em reprovar meu estilo de vida. Sou um monumento aos vícios. Um souvenir das armadilhas do prazer} (ESKS)
- DirectorMiguel IglesiasStarsGigliola CinquettiMark DamonMicaela PignatelliA young housekeeper's daughter pretends to be wealthy in order to impress her best friend's fiancé."Para quem gosta de cantorias histéricas em italiano pode ser um filme muito engraçado e charmoso. Para quem não curte a gritaria, vai querer furar os tímpanos." (Heitor Romero)
"A crítica, na época, abominou, mas o público adorou. Estou a me referir a Dio come ti amo (1966), de Miguel Iglesias, melodrama bem água-com-açucar (como se dizia antigamente), que se constituiu num fenômeno de bilheteria. Basta dizer que ficou mais de 24 semanas (mais de dois anos, portanto) em cartaz num único cinema em Salvador, o Nazaré, com sessões lotadíssimas todos os dias. Aos sábados e domingos, com sessões às 14, 16, 18, 20 e 22 horas, era preciso que se chegasse duas horas antes para se poder comprar o ingresso. Com Gigliola Cinquetti (que canta a canção-tema, principalmente no final apoteótico, quando seu amado (Mark Damon), já dentro do avião, prestes a decolar, ouve, pelo alto-falante, Gigliola no aeroporto a cantar. O público veio abaixo. Trata-se de uma co-produção entre a Itália e a Espanha, com um ranço anedótico e melodramático mais deste último. Lembro-me que vi, dentro da sala exibidora, muito intelectual enragé que procurava se esconder quando via algum conhecido com vergonha de ali estar. Há um outro filme que fez sucesso parecido, mas de outra qualidade, de outro nível: O candelabro italiano (Rome adventures, 1963), com Rossano Brazzi, Troy Donahue, Suzanne Pleshette. Não é indicado para post de um blog Momentos da arte do filme, mas blog é para estas coisas." (Andre Setaro)
''Esse filme que foi dos tempos da minha tia, nem a própria teve saco de assistir. Eu particularmente assisti por curiosidade, era daqueles filmes que selecionei e guardei para assistir depois. Acredito piamente que fez muito sucesso nos anos 60, onde as mocinhas suspiravam sonhando com os seus príncipes encantados. Liam aquelas revistinhas de moda, cultura inútil e fotonovela; além de posarem com cara de santas para família quando o assunto era namoro. Claro, era o tempo hipócrita do politicamente correto, em que muitos tem nostalgia e outros nem tanto, quando o assunto é política e comportamento social. Mas o filme exibe esse padrão feito especialmente para os fãs da Gigliola, para a juventude sonhadora que frequentava as matinês e tudo mais. A mocinha tem o nome da cantora e atriz interpretada por Gigliola Cinquetti. No início do filme ela estabelece uma saudável e feliz amizade com uma nadadora espanhola. Há cenas dos postais recebidos por ambas. Um dia a mocinha espanhola passa por apuros em uma prova de natação e a nadadora Gigliola a salva de um afogamento. Daí a gratidão e amizade mais forte, a italianinha passa alguns dias na Espanha no país da amiga e conhece o noivo dela. Resumindo: os dois se apaixonam. Mas é tudo muito certinho: a mocinha sofre por gostar de um moço comprometido (normal isso para quem tem caráter). E em uma festa suntuosa na mansão do patrão do pai da italianinha o mocinho se declara, a namorada escuta e nem se estressa, porque na verdade ela percebe que nem amava seu agora ex-namorado tanto assim. A espanhola acaba se apaixonando pelo bonitão irmão da Gigliola. A italianinha abraça o irmão para lhe contar a novidade de que agora acertou os ponteiros com a amiga e o ex-namorado dela. Ao ver a cena o bonitão espanhol acha que ela o trai com outro homem e foge para o aeroporto, mas antes "de dar o flagrante", como bom moço de família daquele tempo foi pedir permissão pai da garota para namorá-la. Quando todos esclarecem o que está acontecendo, Gigliola (a italianinha) vai alucinada atrás do seu namorado no aeroporto e percebe que ele entrou no avião. Desesperada ela vai até a torre de controle e pede para dar um recado ao seu amor e ela acaba cantando a canção "Dio, come ti amo". Ele enfim sai do avião para ir ao encontro da sua paixão. Os dois dão aquele beijo técnico bem técnico e são felizes para sempre. Para quem estuda o idioma italiano é uma boa pedida para exercício de uma língua estrangeira. Para quem gosta de música italiana também. Além da famosa "Dio, come ti amo", Gigliola Cinquetti na primeira cena canta "Non ho l'età", outro hit romântico da época. Para quem gosta de filme antigo sem preconceitos (até porque ele é preto e branco) recomendo, mas para quem não suporta tanta coisa melosa, poque este é meloso, meloso, meloso... é melhor ver um outro filme mais interessante." (Sala de Cinema) - DirectorRoland EmmerichStarsRhys IfansVanessa RedgraveDavid ThewlisThe theory that it was in fact Edward De Vere, Earl of Oxford, who penned Shakespeare's plays. Set against the backdrop of the succession of Queen Elizabeth I and the Essex rebellion against her."Ligeiramente, o diretor de "10.000 a.C." conseguiu me tirar o fôlego, com algo próximo de arte." (Alexandre Koball)
"Especialista em mostrar o apocalipse, Emmerich escolheu Shakespeere como tema desse filme, que tem a pretensão de atrair diferente do habitual. As versões sobre a identidade do dramaturgo inglês são abundantes e fantasiosas (nenhuma jamais foi provada). Emmerich abraça uma delas, segundo a qual Shakespeare seria nome inventado por Edward de Vere, conde de Oxford, cuja posição social impedia que se dedicasse ao teatro, sua paixão secreta. A autoria das peças do aristocrata era assumida por um ator sem caráter, mais interessado em vinho, mulheres e dinheiro. Emmerich descreveintrigas políticas entre clãs que disputam o poder após a morte da rainha Elizabeth com muitas idas e vindas temporais, confundindo o espectador - principalmente na primeira metade do filme. Apesar de abordarem temas Shakesperianos - como traição, vilania, vingança, ganância -, tais intrigas se sucedem febrilmente, mas não fisgam o espectador. Muito mais interessante seria aprofundar as contradições do aristocrata, o verdadeiro motor da criação." (Alexandre Agabiti Alpendre)
"Roland Emmerich é um diretor que ficou estigmatizado por realizar filmes de catástrofe de altos orçamentos (Soldado Universal, O Dia Depois de Amanhã, Independence Day e Godzilla, por exemplo). Seu último trabalho, 2012, foi bastante contestado e talvez por isso ele tenha resolvido fazer uma repaginada na sua forma de trabalhar. Na verdade, ele ainda fez algo meio catastrófico, mas desta vez tentando converter a mente do espectador de que William Shakespeare era na verdade uma fraude. A destruição agora é de um grande lenda da literatura e não mais pontos turísticos do mundo. Pode assustar, mas tudo é baseado numa teoria Oxfordiana, que acredita que Edward de Vere é o responsável pelos 38 manuscritos intitulados a William Shakespeare. A grande verdade é que na época em que a história se centra, as peças teatrais eram consideradas imorais e repudiadas pela côrte. O fato de Edward ser um Conde de Oxford não lhe permitia assinar suas peças, mas seu gosto pela escrita nunca se esvaiu. Sua mente nunca parou de criar e quando assistiu a uma peça de Ben Johnson, que conseguiu alegrar ao público e ao mesmo tempo demonstrar críticas sociais, ele encontrou um novo motivo para tentar reviver seu sonho e passar a usar o rapaz como representante de seus textos. A questão é Johnson não gostou muito da ideia de assinar a autoria do trabalho de outra pessoa e um tal de William Shakespeare, um ator beberrão, se aproveitou da situação e assumiu como responsável pela obra que marcaria época. Além disso, em meio a todos esses, já interessantes, acontecimentos, é também retratada toda uma intriga política para resolver a sucessão da Rainha Elizabeth I. Aquele velho jogo de interesse que estamos acostumados a ver em filmes que abordam o tema. Não sei como os mais fanáticos vão se sentir, mas confesso que gostei do que vi e achei a teoria no mínimo interessante. Se é verdade ou é mentira não me interessa. O que eu sei é que é um ponto de vista e como entretenimento me agradou bastante, com as mais de duas horas de execução passando bem rápidas. Não vou muito longe e cito como exemplo o Código da Vinci, que tem suas convicções e foi capaz de argumentá-las de forma interessante. Se concordamos ou não é outro papo, mas não negamos que seja um livro/filme no mínimo intrigante. Outro ponto é que a intriga política é chama muita atenção e termina enriquecendo demais a obra, que por fim se mostra um thriller de bastante qualidade. Algumas confusões são feitas, principalmente com flashbacks dentro de flashbacks e também por crucificarem tanto a imagem de uma pessoa que é idolatrada no mundo. Há ainda algumas falhas de datas e de acontecimentos que colocam a coisa um pouco em dúvida, mas nada que atrapalhe o bom andamento da obra. Acredito que o diretor tomou licença poética para alterar os fatos verídicos de forma que o filme se torne mais interessante. Outra coisa que mostra o trabalho do diretor é o fato dele conseguir tirar grandes atuações e apresentar um fotografia muito boa, que é auxiliada por um grande figurino, que por sina foi indicado ao Oscar 2012. É uma produção com mais acertos do que erros e que serve muito para quem topar viajar em sua proposta. Assistir ao longa com resistência daquilo que ele tem a mostrar é perder o seu tempo. Tem que ter a cabeça aberta e aceitar que nosso amado Shakespeare pode ter sido um aproveitador barato. Prefiro continuar acreditando no talento do autor de Hamlet e Romeu e Julieta, mas não deixo de repetir que se trata de algo diferente e intrigante." (Tiago Britto)
84*2012 Oscar - DirectorsDeclan DonnellanNick OrmerodStarsRobert PattinsonUma ThurmanKristin Scott ThomasA chronicle of a young man's rise to power in Paris via his manipulation of the city's wealthiest and most influential women.Robert Pattinson carrega filme dispensável aos cinemas.
"São três os fatores da ascensão social: mérito, herança e sexo. Se o primeiro exige esforço e o segundo é uma questão de sorte, o terceiro é uma vocação. É preciso nascer com os atributos necessários para transformar a si mesmo em uma ferramenta de manipulação, capaz de destruir casamentos, derrubar governos e, atualmente, garantir uma boa pensão ou se tornar uma celebridade.
''Bel Ami - O Sedutor'', adaptação ao cinema do romance escrito em 1885 por Guy de Maupassan, romantiza esse talento especial: um homem pobre que descobre na sedução das esposas de políticos e magnatas da Paris de 1890 o caminho para a riqueza e o poder. O filme de Declan Donnellan e Nick Ormerod não consegue, contudo, retratar propriamente esse fascínio causado por seu protagonista. Condensando 400 páginas em 102 minutos, a roteirista Rachel Bennette entrega apenas um George Duroy (Robert Pattinson) ignorante e inseguro, que se mostra mais manipulado do que manipulador. A vida de Duroy é transformada por acaso. Um dia, junta seus últimos trocados e segue para o bordel local. Lá encontra um velho colega de exército, Charles Forestier (Philip Glenister), que lhe abre as portas para um novo mundo - de trajes sociais, talheres diversos e taças de champanhe. O rapaz pobre, ex-oficial de cavalaria, é então colocado à mesa com as três mulheres que levarão ao seu progresso social: Madeleine Forestier (Uma Thurman), Virginie Rousset (Kristin Scott Thomas) e Clotilde de Marelle (Christina Ricci). Do jantar, surge a ideia de um artigo de jornal e a proposta de ajuda de Madeleine Forestier, a verdadeira sedutora da história. É a personagem de Uma Thurman que guia inicialmente os passos do Bel Ami, o coloca nos braços de Clotilde, uma esposa solitária, e o alerta da importância de Virginie, a influente esposa do dono do jornal La Vie Française. Em um mundo dominado oficialmente pelos homens, ela usa a ignorância de Duroy para levar a público suas ideias, assim como fazia com o próprio marido. Em uma das cenas mais marcantes (talvez a única), Madeleine, ocupada em investigações e estratégias políticas, responde às investidas do jovem amante com força e desprezo, revelando a Bel Ami o seu lugar e abrindo os olhos do michê para um novo plano. Dispensável, ''Bel Ami - O Sedutor'' chega aos cinemas brasileiros apenas pela presença de Pattinson, que não atrai apenas as fãs do vampiro Edward, mas os críticos e curiosos, que querem ver seu desempenho além da Saga Crepúsculo. Vale dizer então, que por mais que falte tridimensionalidade a George Duroy (que tem seus triunfos sociais marcados por uma caricata trilha sonora), a culpa não cai sobre o seu intérprete. Sua atuação, apesar de insegura, é promissora. Um ator honesto, com vontade de crescer. Seu personagem, contudo, não passa de uma versão masculina da socialite Val Marchiori, iludido pelo brilho da opulência e rejeitado por seu novo círculo social. Ascender não é tudo." (Natalia Bridi)
É evidente que "Bel Ami - O Sedutor" está de olho na legião mundial de fãs do ator Robert Pattinson. Não vale a pena fazer disso um cavalo-de-batalha. Trata-se de uma tática comercial tão antiga quanto o próprio cinema. Até mesmo o conceituado David Cronenberg escalou Pattinson para seu novo filme, Cosmópolis. O que interessa é entender por que os britânicos Declan Donnellan e Nick Ormerod decidiram adaptar um clássico francês de 1885, quando poderiam ter filmado uma banal trama adolescente, bem ao gosto da plateia de Rob Pattinson. Donnellan ressaltou a atualidade desse romance excepcional de Guy de Maupassant (lançado aqui pela Estação Liberdade) sobre o pé de chinelo Georges Duroy, que ascende na alta sociedade recorrendo aos únicos bens que possui: ambição e dotes físicos. De fato, o livro ainda tem muita coisa a nos dizer, ao tratar, por exemplo, das manipulações urdidas pela imprensa sensacionalista, da especulação financeira e da exploração comercial das guerras. Esses temas pontuam o filme, mas é outro o interesse do roteiro de Rachel Benette, de visada bem feminina: como a beleza de Duroy o exclui do mundo dos machos e o destina ao convívio das mulheres, em cujos salões e camas ele encontra abrigo e pratica sua vontade de poder. Esta é também a questão colocada pelo filme ao próprio Pattinson: que sobrevida ele poderá ter como ator para além das fantasias das garotas? "Bel Ami" é, portanto, um teste de maturidade para Pattinson, que se esforça bastante para vencer o desafio (apesar das caretas e caricaturas), tanto mais por estar confrontado com atores de alto nível, como Uma Thurman e Kristin Scott Thomas. É justamente na direção dos atores que se saem melhor Donnellan e Ormerod, oriundos do teatro londrino. É o primeiro filme que dirigem, e vale ressaltar que cumpriram a encomenda com segurança, cuidado e vivacidade, apesar da linguagem convencional, quando não acadêmica." (Alcino Leite Neto)
''Não foi dessa vez que Robert Pattinson conseguiu provar que funciona num filme que não tenham as palavras “crepúsculo” e “saga” no título. Em ''Bel Ami – O Sedutor'' ele até que se esforça, mas gasta tanta energia querendo ser sutil que o resultado é exatamente o contrário. Pattinson parece ainda não estar confiante o suficiente para fazer menos diante da câmera. Nos close-ups (e são muitos) há expressões sobrando: a sobrancelha que se levanta, a narina que se expande, um tique no canto da boca, a contração de um olho. É como se vestisse o personagem em vez de incorporá-lo - e o traje parece desconfortável. Todos esses maneirismos exagerados ganham ainda mais evidência quando vemos seu rosto ampliado centenas de vezes na tela. Dirigidos pelos cineastas de primeira viagem Declan Donnellan e Nick Ormerod, o longa é uma adaptação do famoso romance de Guy de Maupassant sobre o ex-soldado francês Georges Duroy (Pattinson), que retorna a Paris da Belle Époque depois de três anos na Argélia. Contando moedas para viver, encontra casualmente um ex-companheiro de campanha, e agora editor de jornal, Charles Forestier (Philip Glenister), que lhe abre as portas da alta sociedade parisiense. Convidado para jantar na casa do colega, encontra pela primeira vez as três mulheres que irão mudar sua vida: Madeleine (Uma Thurman), esposa de Forestier, que e o ajuda a conseguir um emprego no jornal do marido; Clotilde (Christina Ricci), jovem com quem Georges começa um caso; e a mais velha Madame Rousset (Kristin Scott Thomas), dama com grande influência na sociedade parisiense da época. Usando de seu charme e poder de conquista, o ambicioso Georges se aproveitará da devoção amorosa dessas três mulheres para galgar a alta sociedade da capital francesa. O mau resultado do filme não pode ser colocado na conta de Pattinson. Sim, ele está longe de convencer como um sedutor capaz de conquistar mais do que as adolescentes deslumbradas, mas o roteiro também não contribui para que possa surgir uma definição para o espectador sobre quem de fato é Georges. Ele tem consciência do que está fazendo ou é apenas um rapaz bonito sendo manipulado por todos à sua volta? Até o fim do filme essa pergunta fica sem resposta e, quando finalmente descobrimos quem de fato é, não nos convencemos. ''Bel Ami'' é raso dramaticamente e parece-se mais com uma novela televisiva. Não tem ressonância emocional o suficiente para um filme. Há também um subtrama política que nada acrescenta e que dispersa a atenção do espectador a troco de nada. A boa cenografia e os figurinos luxuosos não são capazes de esconder que o filme não consegue captar com precisão a essencial do romance que lhe deu origem. Soma-se a isso uma direção tacanha que deixa o espectador à margem dos personagens e suas realidades. É interessante notar que o personagem de Pattinson lembra muito as pseudocelebridades modernas, que buscam ascender ao topo do mundo artístico sem, no entanto, demostrarem talento para tal. É irônico notar que próprio ator vive situação semelhante: se esforçando para mostrar ser mais do que o Edward Cullen de Crepúsculo, mas dandos provas do contrário em filmes como Bel Ami." (Roberto Guerra) - DirectorAlfonso CuarónStarsMaribel VerdúGael García BernalDaniel Giménez CachoIn Mexico, two teenage boys and an older woman embark on a road trip and learn a thing or two about life and each other."Depois de uma estréia promissora em seu país de origem, o cineasta mexicano Alfonso Cuarón foi tentar a vida no cinema americano, onde fez bons filmes, entre eles A Princesinha e Grandes Esperanças. Após dez anos sem filmar em sua terra natal, Cuarón retornou ao México para realizar o inteligente e sensível E Sua Mãe Também, filme que estréia neste fim de semana nos cinemas brasileiros. "E Sua Mãe Também" é uma comédia erótico-dramática. Mostra dois amigos adolescentes - Julio (Gael García Bernal) e Tenoch (Diego Luna) - preparando-se para entrar num verão que promete ser dos mais enfadonhos. Suas namoradas foram viajar e ambos estão sozinhos, sem muito o que fazer. Avoados e sem nada na cabeça, Julio e Tenoch são uma espécie de versão mexicana de Beavis e Butthead. Até que entra em cena a atraente Luísa (Maribel Verdú, de Sedução - Belle Époque), mulher mais velha, casada e européia, que imediatamente chama a atenção dos dois rapazes. Os três decidem ir à praia. Uma simples viagem de alguns dias que definitivamente vai mudar as histórias de suas vidas. Se nos Estados Unidos este tipo de filme é chamado de road-movie, talvez no México ele possa ser considerado uma película-carretera. Nomenclaturas à parte, E Sua Mãe Também retrata várias viagens. Não apenas a física, em que um velho carro passeia descompromissadamente pela miséria e pela intolerância política mexicanas, mas também e principalmente pela psicológica. Durante três dias, Julio e Tenoch viverão um rito de passagem da adolescência para a vida adulta. Mudarão os conceitos e as idéias pré-concebidas. Ambos aprenderão a perdoar. Luísa, por sua vez, tem um caminho diferente a empreender. Ela precisará romper as amarras de sua própria repressão para poder ingressar num outro estágio de existência. O interessante de tudo é que na medida em que os personagens se aprofundam e aprendem a viver, o filme também vai se tornando mais sério. Ele começa quase em ritmo de pornochanchada brasileira dos anos 70. O que é coerente com o estilo de vida dos dois rapazes protagonistas. A mudança de paisagem acompanha a alteração do tom da narrativa. O interior do país, árido, combina com a rudeza das brigas que se sucederão. E quando o trio chega ao azul do mar e à amplidão da praia, é como se as relações humanas entre eles finalmente encontrassem luz própria. Não por acaso, "E Sua Mãe Também" ganhou dois prêmios no Festival de Veneza: revelação para os dois atores e roteiro. O filme é a segunda maior bilheteria de um filme mexicano, levando mais de 3,5 milhões de pessoas aos cinemas e superando o badalado Amores Brutos (perdeu apenas para Sexo, Pudor & Lágrimas)." (Celso Sabadin)
"Filmes sobre adolescentes quase nunca provocam algum tipo de resposta emocional em pessoas adultas, especialmente se forem produzidos nos Estados Unidos. Por lá, esse tipo de produção repisa sempre a mesma história, mostrando um bando de garotos feiosos sedentos por sexo. “E Sua Mãe Também” (Y Tu Mama También, México, 2001), ainda bem, não é norte-americano – e talvez por isso seja tão refrescante. Curiosamente, também versa sobre dois rapazes que só querem transar, mas a abordagem do cineasta Alfonso Cuarón faz toda a diferença, e o transforma em um filme maravilhoso. Trata-se do tipo de obra que provoca identificação imediata entre os mais jovens, e traz uma bem-vinda sensação de nostalgia gostosa para adultos. Em termos de gênero, “E Sua Mãe Também” poderia ser descrito brevemente um dos melhores filme de adolescentes já produzidos. Não é exagero. O título não tem nada a ver com as contrapartes americanas que são produzidas a toque de caixa, a exemplo da série American Pie e congêneres. O diferencial, sem dúvida, é a mão do diretor, que trata a sexualidade – basicamente, o norte que guia qualquer adolescente normal – sem o menor traço de culpa ou repressão, e com doses cavalares de energia e honestidade. O filme cozinha firmemente, no mesmo pote, temas como sexualidade, juventude, amizade e globalização, e a receita jamais perde o ponto. Não há gorduras narrativas. “E Sua Mãe Também” é uma pequena pérola perfeita, o tipo de filme que a gente assiste de olhos bem abertos, vidrados, sem pensar em ir ao banheiro, sem olhar para o relógio, apenas desfrutando do aqui e do agora, exatamente como fazem os personagens. E isso tudo é muito, muito bom. Os dois personagens principais são melhores amigos. Julio (Gael Garcia Bernal) e Tenoch (Diego Luna) têm 17 anos e ficam sozinhos durante as férias, depois que as respectivas namoradas viajam para a Itália em intercâmbio. São dois rapazes normalíssimos para a idade, inseparáveis, que vêem diversão (e sexo, claro!) em tudo. Tomam porres homéricos, se masturbam na piscina pública do clube local, sonham em transar o máximo possível durante as férias e passam cantadas em qualquer garota que esteja por perto. Uma delas é Luisa (Maribel Verdú), moça de 28 anos casada com um primo de Tenoch. Em circunstâncias normais, Luisa jamais daria bola para qualquer um dos dois. Só que uma briga conjugal acaba fazendo a garota procura vingança, embarcando com a dupla em uma viagem para uma idílica (e inexistente) praia distante. A viagem funcionará para os rapazes como um belo rito de passagem à idade adulta. Cuarón filma a paisagem mexicana com honestidade comovente, indo da mansão luxuosa da família de Tenoch às pensões vagabundas de beira de estrada com o mesmo olhar despojado. Há um narrador onipresente que, às vezes, congela o tempo para fazer observações sobre as pessoas ou coisas com quem eles cruzam. São sempre observações inteligentes e curiosas. Um dos truques de Alfonso Cuarón foi filmar tudo do ponto de vista dos rapazes, para quem Luisa se torna um mistério. Ela mostra curiosidade genuína a respeito dos dois, e fala com franqueza da própria vida, sempre com um sorriso no rosto. Mas à noite, quando está sozinha, os rapazes a vêem chorando no quarto. Eles não a entendem. Para os dois, é uma musa, mas uma musa disponível. Assim ela permanece também para nós, espectadores, e é isso que faz o final do filme, de certa maneira inesperado, funcionar tão bem. Veja por si mesmo e confirme. Um dos grandes charmes da produção é a universalidade da história de Julio e Tenoch. Todo adolescente desta faixa etária já viveu experiências semelhantes: já fez viagens malucas com um carro arrebentado, já teve que dormir em um banco traseiro, já teve uma amizade inseparável (“somos a fraternidade dos charolaras”), já viveu o hoje com a sensação de que o amanhã está a dois anos de distância. “E Sua Mãe Também” captura essa atmosfera adolescente sem transparecer nenhum esforço cinematográfico. A química entre os atores é tão perfeita que nem parece um filme. A sensação é de que Cuarón apenas ligou a câmera e mandou os três irem brincar. Para os brasileiros, o bônus é que a viagem para a praia mexicana descortina um cenário incrivelmente familiar. A seqüência em que Julio, Tenoch e Luisa dançam coladinhos num boteco à beira-mar, descalços sobre a areia fina, tomando cerveja e ouvindo música numa radiola de ficha, poderia ter acontecido aqui mesmo em Pernambuco, em Maracaípe ou Itamaracá. E, olha, acho que aconteceu mesmo. Que maravilha é a sensação de se ver num longa-metragem filmado em tempo e espaço completamente diferentes, não? Isso deve querer dizer alguma coisa sobre essa tal de globalização, mas nesse caso, acredite, é melhor nem pensar. Prefira se deixar levar. Somente isso." (Roberto Carreiro)
75*2002 Oscar / 59*2002 Globo / 2002 Lion Veneza - DirectorSteven R. MonroeStarsSarah ButlerJeff BransonAndrew HowardA writer who is brutalized during her cabin retreat seeks revenge on her attackers, who left her for dead."Descartável, absolutamente!" (Alexandre Koball)
"Jennifer passa de vítima desolada, que mal consegue andar, a uma fria e calculista sucessora de Jigsaw em questão de alguns dias, nesse torture porn covarde que pensa que choca com suas cenas de violência recicladas de uma porrada de filmes inúteis." (Heitor Romero)
"Descartável é pouco. Bomba "braba"..." (Rodrigo Torres de Souza)
O horror sem bolas.
''O cinema vive de infiltrações, de ecos e intercâmbios. Uma opção de estilo de Siodmak na década de 40 pode reverberar ainda hoje ou amanhã (Tarantino vem fotografando lindamente este processo). É a essa cascata de acontecimentos aleatórios (presente de alguma forma em todos os seus níveis) que alguns filmes devem sua existência. Mario Bava, ao inventar o giallo em 1964 com Seis Mulheres Para o Assassino (Sei Donne Per l'Assassino, 1964) (buscando por sua vez em Tourneur e Hitchcock a referência para apontar toda a noção de horror que temos hoje), inventava também a sedução através da morte no cinema. As cores, o balé da lâmina no ar e os movimentos de câmera dotados de uma elegância quase paradoxal diante do propósito para o qual eram executados conferiam ao ato de matar um atributo estético inimaginável até então. Bava desafiava o público, pela primeira vez, a enxergar beleza na violência (Argento discorreu a respeito alguns anos mais tarde, em Prelúdio Para Matar [Profondo Rosso, 1975]). Dez anos mais tarde, Bava resolveu subverter a si mesmo (e ao monstro que havia criado). Em Rabid Dogs (idem, 1974), o italiano extrai todo possível artifício visual que maquiasse ou alterasse de alguma forma a violência em estado bruto vista na tela, feito uma fratura exposta. O desafio ao espectador, desta vez, é ainda maior: apreciar esta violência apesar de sua nudez; assistir e divertir-se com um filme que não oferece qualquer respiro estético como desculpa para ser apreciado. Apenas o horror (a respeito disto falou Ruggero Deodato no belo e incompreensível Holocausto Canibal [Cannibal Holocaust, 1980]). É só por causa desta sequência de rupturas, invenções e reinvenções que A Vingança de Jennifer (I Spit on Your Grave, 1978) veio a ser filmado (e por consequência, é claro, seu remake). A diferença que define todas as outras entre ''Doce Vingança'' (I Spit on Your Grave, 2010) e A Vingança de Jennifer é objetivamente mensurável: 30 anos de peregrinação do horror no cinema. Se o filme de Meir Zarchi é fruto daquela safra setentista regada a décadas de perversão represada, Doce Vingança nasce em uma pós-efervescência do gênero já em solo americano. Passa o desenvolvimento frenético do terror ianque nos anos 80, do slasher e camp movies, absorve uma ou duas referências dos mockumentaries, do terror-cereal de Lenda Urbana (Urban Legend, 1998) e Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado (I Know What You Did Last Summer, 1997), respira generosamente o sopro já meio datado deixado pelos torture porns de metade da década passada, e chega até aqui, em pleno 2011, como um filme inútil sem identidade, uma colagem de retalhos do horror made in USA que já havia por sua vez sido copiado de italianos e japoneses. A Vingança de Jennifer tem seu estilo construído pela falta de estilo; sua estética desenhada pelo completo desleixo para com qualquer recurso estético. A narrativa é maravilhosamente precária, quase ausente; um filme montado em dois blocos: estupro e vingança, cada ato auto-explicativo assim mesmo. É essa crueza toda e esse deserto de artifícios, naturais em qualquer filme (mesmo no mais bagaceiro dos exploitations), que faz de A Vingança de Jennifer uma experiência válida, e é talvez a falta de pretensão de Meir Zarchi (ou de habilidade, pouco importa) que faz dele, acima de tudo, um bom filme sobre a violência e essa desafiadora ideia de comê-la crua. ''Doce Vingança'', em contrapartida, veste-se displicentemente com os farrapos de subgêneros deixados pelos seus antecessores ao longo dos anos. Do suspense, as sequências em que Jennifer caminha no escuro sob uma trilha soturna; de Jogos Mortais (Saw, 2004) e suas crias, os esquemas engendrados por ela para torturar seus agressores; do terror sobrenatural, as marcações de paranormalidade e assombração; do horror adolescente dos anos 90, o crime seguido pela perseguição e pela tensão da fuga, corrida pela eliminação dos vestígios (aliás Monroe ensaia algo que teria salvo Doce Vingança [apesar de eu duvidar que ele mesmo tenha percebido]: a troca de posições após o estupro, deslocando o espectador da perspectiva da vítima para dentro da dinâmica do grupo de amigos, transformando Jennifer na vilã). Cada cena, que no original era primitiva e mesmo carente dos signos mais simples da linguagem cinematográfica, é fantasiada com o que restou de um cinema que o próprio A Vingança de Jennifer ajudou a influenciar. As duas cenas do estupro anal estabelecem bem essa diferença. Enquanto que Zarchi simplesmente finca uma câmera no chão e a esquece diante de uma pedra onde Jennifer é posicionada de quatro, nua e aos berros, Monroe utiliza de toda forma de trucagem (uma variedade surpreendentemente ampla das tosquices possíveis com uma câmera) para esconder a ação. Como já disse no texto sobre Deixe-me Entrar (Let Me In, 2010), remake que repete o original já perde sua razão de ser, mesmo porque não creio ser possível realizar um exploitation hoje sem escorregar para um mero pastiche (do mesmo modo que não é possível filmar um western ou um film noir), portanto não serve de argumento para condenar Doce Vingança o fato de ele embrulhar o roteiro de Zarchi em um papel-presente cafona, porque já era esperado que o fizesse. O problema é a fragilidade com que esses elementos são flexionados, a falta de olhar criativo sobre o material original e, acima de tudo, a alarmante falta culhões de um diretor jovem. Tudo isto parece criar para ''Doce Vingança'' uma estranha ilusão quanto aos seus rumos e a suas liberdades em relação ao filme de Zarchi. Se Monroe pensa estar sendo criativo ao enriquecer aparentemente o rol de crueldades do filme original, e se pensa que com isto está sendo mais extremo, mais gráfico e mais chocante, precisa rever seu filme incrustado nesse contexto, como produto de uma longa equação fílmica. Se a violência em quantidade supera em muito a vista em A Vingança de Jennifer, sua intensidade é sempre anestesiada pela pegada insegura de Monroe, pela sua queda irresistível em emplumar cada sequência (até pelo olhar do espectador já bem amortecido em relação àquele da década de 70). Não sei o que se passou nos bastidores da produção, mas cito o nome do diretor apenas para simplificar o raciocínio a seguir. Pegue um elemento em particular, novo em relação ao filme original e enfocado desde o começo com suspeita insistência: a filha do policial. Além de cumprir uma função a princípio interessante na composição desse personagem (ausente do filme de Zarchi), ela tem (ou teria, supondo pela sequência lógica da construção do roteiro) um papel muito importante como arremate final no plano megalomaníaco de Jennifer, requinte de crueldade e, aí sim, atestado de coragem em um contexto de cinema onde, se já é quase impossível ser transgressor, ainda resta o benefício da contravenção. ''Doce Vingança'' se esquiva dessa responsabilidade e se resigna tranquilamente na vala de um cinema descartável, tanto que comete o absurdo de reutilizar um personagem já morto para tomar o lugar da criança e evitar um desafio mais sério ao seu público. A câmera sente-se segura o suficiente para focar uma máscara de látex e litros de tinta vermelha, mas teme captar um mamilo que seja de Sarah Butler. A violência tão extremada, tão gráfica e espetacular, não passa de uma cócega. ''Doce Vingança'' ao final de contas, com todos os seus estupros, seus pintos castrados, olhos comidos e rostos derretidos em ácido, é um filme cor-de-rosa para garotinhas saltitantes." (Luis Henrique Boaventura)
''Diz o limitado rótulo de gêneros cinematográficos que ''Doce Vingança'' é um filme de terror. Mentira. Estamos falando de uma produção a integrar a larga tradição do cinema sádico, um filme que trabalha de maneira precisa a exploração da excitação sexual pela fruição da dor. Ou seja, se o espectador castrar qualquer sinal do teor sádico que há em todos nós, vai sair correndo da sala de cinema. Claro, a castração é um meio digno que recorremos para não lidar com alguns instintos quando não estamos preparados. Steven R. Monroe propõe um jogo cênico que coloca o espectador como voyeur. Numa leitura ousada, na relação que estabelece na sala de cinema, Monroe e seu filme são masoquistas, enquanto o espectador é o sádico que tem os limites de êxtase desafiado. Só que Doce Vingança não é um filme sofisticado, que tem a tortura abordada sob um olhar de Buñuel ou de um livro irônico e provocador de Marquês de Sade. Trata-se de um filme mais direto, seco, que não trabalha com a noção mais elaborada da outra face do sadismo, o amor. Fincado no argumento da desforra, que já rendeu dezenas de filmes de exploitation, o longa-metragem apresenta vagarosamente a aspirante a escritora Jennifer Hills (Sarah Butler, fraca nas poucas nuances da personagem). Para terminar seu livro, Jennifer se refugia numa isolada cabana. O então predominante silêncio dá lugar a pequenas intervenções sonoras. Alguém a observa? Serão aqueles três rapazes que estavam no posto onde Jennifer reabasteceu o carro? ''Doce Vingança'' é uma refilmagem de I Spit on Your Grave, de 1978, lançado no Brasil como A Vingança de Jennifer. Não assisti ao original, mas me contaram que ele flerta com o trash e recorre a elipses nas cenas de maior violência. Claro, um exploitation da década de 70 tinha de responder à sua realidade. Hoje, o espectador se relaciona de outra maneira com a imagem, o que gera exageros na realização. Existe uma série de cineastas contemporâneos norte-americanos que, ao lidar com o terror ou a violência, entendem que muito nunca é demais e tudo precisa ser mostrado no limite (por exemplo, as tripas das vítimas em O Lobisomem). É por isso que faço questão de pontuar que Doce Vingança é um filme sádico, não de terror. A violência é um componente que realiza mais uma operação psicológica no espectador do que imagética no filme. É projeção, não afirmação. Um flerte entre a dor de um e o êxtase do outro. Como se trata de um filme de vingança como denuncia o título, Jennifer, a vítima, fará seus algozes pagarem na mesma moeda. Esperto, o roteiro de Stuart Morse cria uma narrativa circular, na qual os elementos cinematográficos que apareceram na primeira parte são retomados quando a garota persegue quem a coagiu. Pensei que este remake seria misógino, mas não: da mesma maneira que o diretor Monroe adota o ponto de vista dos homens na primeira parte, embarca na perspectiva da mulher na hora da vingança e atinge os algozes no ponto chave: o falo. A balança está equilibrada e a violência é explícita para ambos os lados. Não vemos em ''Doce Vingança'' um apuro como o de Buñuel a trabalhar com as projeções da culpa e da dor de sua heroína Séverine em A Bela da Tarde ou do possessivo e ciumento marido de O Alucinado. Mas o filme tem méritos ao trabalhar com a exploração da dor e colocar um jogo psicológico espectador/filme durante a sessão. Até aonde nós, que estamos assistindo ao filme, podemos ir?" (Heitor Augusto)
''Para saber do que se trata o enredo de ''Doce Vingança'' (I Spit on You Grave), é necessário se adiantar fatos que preenchem praticamente dois terços da duração do filme. A protagonista chega na casa, é estrupada, escapa e parte para um jogo vingativo extremamente sangrento. Para que a atenção do público não se disperse no começo da fita, por já saber o que vai acontecer, o filme se concentra em deixar o como as coisas acontecem mais interessantes. Dessa forma, cenas graficamente muito fortes e uma boa dose de violência são oferecidas para os bravos espectadores. Portanto, ''Doce Vingança'' não é nem um pouco aconselhado para pessoas mais sensíveis. Os desavisados podem sentir desconforto físico e abandonar a sessão pelo meio. Por isso, escolha muito bem quem você vai levar para assistir ao filme! Aos que curtem fortes emoções, ''Doce Vingança'' será puro divertimento. Depois da longa sequência em que Jennifer é estuprada, os ânimos da plateia estarão exaltados e todos sentirão uma certa alegria mórbida em acompanhar a vingança da moça – um tipo de escapismo que o cinema oferece. A forma como o roteiro constrói as situações mortais preparadas para os criminosos farão lembrar os melhores momentos da franquia Jogos Mortais. Toda a retaliação é pautada em igualar o martírio que a protagonista passou, mas isso é feito com criatividade e surpreende os fãs do gênero. ''Doce Vingança'' é o remake de um terror de 1978. Ao contrário da corrente moda de estragar filmes antigos, essa nova versão é positiva. A começar que o original é muito pouco conhecido e diminui as comparações. Outro ponto positivo é que a Platinum Dunes, empresa de propriedade de Michael Bay especializada em acabar com grandes clássicos do terror, não está envolvida no projeto." (Edu Fernandez) - DirectorDavid LynchStarsJack NanceCharlotte StewartAllen JosephHenry Spencer tries to survive his industrial environment, his angry girlfriend, and the unbearable screams of his newborn mutant child."Olhado com certo distanciamento de tempo, "Eraserhead" pode ser encarado, além de um prenúncio das narrativas oníricas e soturnas de David Lynch, como uma reflexão sobre o que seu cinema viria a ser. Uma obra que vaga entre Polanski e Kubrick." (Juliano Mion)
''Eraserhead'' é um filme surrealista, repleto de críticas sociais e simbologia. É um filme fantástico e, ao mesmo tempo, perturbador. Seu visual, sua história, é uma caricatura singular e exagerada da sociedade, apesar de o filme ser do final da década de 70, suas críticas continuam, ainda, a refletir a nossa realidade. Sua trama é bem elaborada, seus personagens perturbados e perturbadores.
Claro que estamos falando de um filme hiper Cult, e com a absoluta certeza, não é de agradar muitos, principalmente por se tratar de um terror diferente. Não digo que seja necessário ser inteligente ou culto para apreciar o filme, mas sim que ''Eraserhead'' é um filme alternativo, e como todo alternativo, tende a não ser um sucesso popular. Como já foi dito anteriormente, o filme é surrealista, aliás, é extremamente surreal. Há a sequência de início, meio e fim, e os fatos tem grande importância, mas os deslocamentos de ideias e o desenrolar da história são singulares. É fácil perder a linha de raciocínio do filme, sendo necessário assisti-lo mais de uma vez para ter total entendimento. Existem, ao longo da trama, cenas bastante exageradas e apelativas, entretanto, essa é a intenção do roteirista e diretor David Lynch, provocar um choque. De acordo com ele, Eraserhead é um sonho de coisas escuras e perturbadoras e, ao mesmo tempo, um filme espiritual. Por essas razões, vários críticos não sabiam como se colocar, sendo considerado culturalmente, historicamente e esteticamente significativo." (DiMarte) - DirectorNagisa ÔshimaStarsTatsuya FujiKazuko YoshiyukiTakahiro TamuraA married woman and her lover murder her husband and dump his body into a well, but his ghost returns to haunt them as the local gossip intensifies.1978 Palma de Cannes
- DirectorIngmar BergmanStarsMax von SydowIngrid ThulinGunnar BjörnstrandA traveling magician and his assistants are persecuted by authorities in Sweden of the 19th century. Their capture, however, didn't bring victory to those in power.{A vodca é minha doença, mas também é meu remédio} (ESKS)
1959 Lion Veneza - DirectorGeorge HickenlooperStarsKevin SpaceyBarry PepperJon LovitzA hot shot Washington DC lobbyist and his protégé go down hard as their schemes to peddle influence lead to corruption and murder.''O Super Lobista'' é um ótimo filme, mais um dos tantos recentes baseados em histórias reais, em fatos políticos acontecidos muito pouco tempo atrás, produzidos pelo cinema independente da América do Norte. É bem feitíssimo em todos os quesitos técnicos, a história que conta é fascinante, mas o que mais impressiona é a atuação extraordinária de Kevin Spacey, esse grande ator. Kevin Spacey está brilhante – e, como muito bem observou Mary, é fantástico vê-lo interpretando um personagem que é o oposto do que o próprio ator é na vida real, um antípoda, em termos de pensamento político, de valores, dele próprio. Ele interpreta Jack Abramoff, figura real, um republicano até a medula, que teve uma carreira extraordinariamente bem sucedida como lobista em Washington, em especial durante as duas administrações de George W. Bush (2001-2009), com grande acesso a representantes (o equivalente ao nosso deputado federal) e senadores republicanos – muitos dos quais ajudou com polpudos cheques para suas campanhas de reeleição, e de quem teve ajuda para legislar em favor de seus clientes. Kevin Spacey, muito ao contrário, é um democrata convicto, da ala mais liberal – no sentido americano da palavra, é claro, e que em português significaria progressista, anti-conservador. O problema é que, aqui, o termo progressista, como todos sabemos, foi tomado de assalto, usurpado, roubado, pelos que apóiam o lulo-petismo. Mas o fato é que Spacey é democrata firme, na vida pessoal e artística; apoiou desde o início a campanha de Bill Clinton, deu generosas contribuições ao partido. Participa de campanhas em defesa de ideário de fato progressista – pró-direito ao aborto, contra a pena de morte. Um de seus melhores desempenhos no cinema é no panfletaço do inglês Alan Parker contra a pena de morte, A Vida de David Gale, filme extraordinário e, lamentavelmente, subestimado, menos reconhecido do que mereceria. Recentemente, fez o papel principal em Recontagem/Recount, ótimo filme da HBO que mostra como foi fraudada a eleição presidencial na Flórida (então governada por Jeb Bush), que acabou dando a reeleição a George W. Bush, embora o democrata Al Gore tivesse obtido mais votos populares. Um grande ator, um homem engajado em causas nobres. Política à parte, ou não, Kevin Spacey é um dos grandes atores de sua geração; nasceu em 1959, a mesma época de Tim Robbins, Gary Oldman, Hugh Grant, Sean Penn, Kenneth Branagh, Daniel Day Lewis – credo, que geração! Já ganhou dois Oscar – um como melhor ator coadjuvante por Os Suspeitos/The Usual Suspects, de 1995, outro como ator principal por Beleza Americana, de 1999. Foi indicado três vezes para o Bafta, o Oscar inglês, e levou o prêmio por Beleza Americana. Ao todo, Spacey coleciona 43 prêmios e 28 outras indicações. Dedicado ator teatral, desde 2003 exerce o cargo de diretor artístico do respeitabilíssimo Old Vic Theatre de Londres, a terra da melhor escola de atores do mundo. Para mim, uma das mais perfeitas interpretações de Kevin Spacey é no belo Meia-Noite no Jardim do Bem e do Mal, que o grande Clint Eastwood lançou em 1997. Ele faz um milionário de Savannah, a maior cidade da sulista, confederada e metida a aristocrática Georgia, onde nasceu o compositor e letrista Johnny Mercer (todas as músicas da trilha sonora são da autoria dele); Jim Williams, seu personagem, é colecionador de arte e de antiguidades, elegante, com aquele tom aristocrático de que o Sul escravagista e retrógado sempre se orgulhou – e, além disso, homossexual não assumido e suspeito de ter matado o amante. Solteiro, absolutamente reservado, recusando-se sempre a falar de sua vida privada, Spacey desperta fofocas a respeito de sua opção sexual na imprensa voltada para celebridades. Numa entrevista a um jornal inglês, disse: Não é que eu queria criar uma mística de merda ao manter silêncio sobre minha vida pessoal. É só que, quanto menos se souber sobre mim, melhor fica para convencer as pessoas que eu sou aquele personagem na tela. Isso permite que a platéia me veja no cinema e acredite que sou uma pessoa. Uma figura, o tal de Kevin Spacey. Um de seus grandes projetos pessoais foi o de dirigir (e estrelar) uma cinebiografia do cantor e ator Bobby Darin, uma figura hoje bastante desconhecida, mas que teve fama e brilho no final dos anos 1950 e início dos 1960. Embora hoje bastante obscuro, Bobby Darin foi um grande showman – e um grande cantor. É dele, por exemplo, uma das melhores gravações – entre as dezenas e dezenas que foram feitas – de “Mack the Knife”, a canção de Kurt Weill com letra de Bertold Brecht para a Ópera dos Três Vinténs. (Essa gravação, num andamento muitíssimo mais lento do que o habitual, que acrescenta imensa dramaticidade à letra de Brecht, foi usada por Robert Redford para encerrar seu belo e também subestimado Quiz Show.) Depois de passada sua época de maior sucesso, Bobby Darin dedicou-se ao engajamento político, em canções contra a guerra do Vietnã. Na abertura, uma ode ao capitalismo, à competição feroz. Acabei me estendendo bastante sobre Kevin Spacey – mas acho que isso tem sentido, porque, de fato, a atuação dele é a coisa mais impressionante do filme – e o fato de que ele, da esquerda dos democratas, interpreta uma figura da direita dos republicanos é realmente fascinante. Não que os méritos do filme se restrinjam à interpretação de Spacey. De forma alguma. A história, a trama, é interessantíssima – e se torna ainda mais fascinante quando sabemos que é tudo real, que tudo aquilo aconteceu de fato -, e o roteiro, assinado por Norman Snider, é muito bem costurado. Como tantos filmes recentes, usa o que chamo de narrativa laço: começa num momento de clímax, e depois volta atrás num longo flashback que ocupa a maior parte dos seus 108 minutos. Tem algumas idas e vindas no tempo, mas basicamente vai seguindo a ordem cronológica dentro do flashback, até chegar de volta ao ponto em que a ação começou, para então ir um pouco mais adiante no tempo. As primeiras tomadas são super-hiper-close-ups, algo que demonstra que o diretor George Hickenlooper deve ter experiência na publicidade: a tela inteira tomada pela ponta de uma torneira que se abre, a tela inteira tomada por uma escova de dentes onde se deposita o creme dental – e aí vemos a figura de Kevin Spacey diante de um espelho, escovando os dentes e ensaiando um discurso, uma defesa de suas ações, uma ode, uma loa ao capitalismo, à competição feroz entre as pessoas, ao que vença quem for melhor, ao que se dê bem quem for mais esperto, mais ágil. Uma homenagem à democracia estilo americano: quem tiver dinheiro para pagar os melhores lobistas se dará bem, porque os bons lobistas conseguirão boas leis em defesa daquele determinado grupo, e os outros que se danem. Com uns cinco minutos de filme, o super lobista Jack Abramoff, riquíssimo, amigo de muitos políticos importante, possuidor de fotos em que aparece ao lado de vários dos presidentes dos Estados Unidos da América – todos republicanos, é claro: Reagan, Ford, Bush pai, Bush filho –, está sendo fotografado de frente e de perfil e levado para uma cela de prisão federal, onde já estão um negro forte e sonolento e um branco cheio de tatuagens que cometeu crimes segundo ele próprio pequenos, tipo agressão e resistência à prisão. E aí, com uns seis minutos de filme, volta-se atrás no tempo, para que vejamos os crimes de colarinho branco que Jack Abramoff cometeu, e como eles foram cometidos. Um lobista que adora imitar artistas de cinema. A frase a vida imita a arte seguramente é anterior ao cinema, essa arte que tem apenas cento e poucos anos. Mas este filme demonstra, como tantos outros, que seguramente a vida imita o cinema. Jack Abramoff, o protagonista, é um apaixonado por cinema. Adora imitar atores – e isso é uma maravilha, porque Kevin Spacey é um exímio imitador de seus colegas. Quando ele imita o jovem Al Pacino em O Poderoso Chefão II, é como se estivéssemos vendo não Kevin Spacey, mas Al Pacino em pessoa, quer dizer, na pessoa de Michael Corleone. Há trocentas mil citações de frases de filmes sobre gângsteres, bandidos, policiais. É tanta citação que a mulher de Abramoff (interpretada por Kelly Preston, na foto) reclama – e eu, fanático por citações, me senti meio perdido. Lá como cá mazelas há. Mas lá depois do crime vem o castigo Jack Abramoff não era funcionário do Estado, nem roubou propriamente do Estado, dinheiro meu, seu, nosso, dos pagadores de impostos. Certo: os crimes incluíam evasão de divisas, e portanto não pagamento de impostos, o que acaba prejudicando quem paga – eu, você, nós. Mas, ao contrário do que estamos vendo no festival de demissões de ministros do lulo-petismo após longas séries de denúncias de roubo de dinheiro dos pagadores de impostos, o que se mostra no filme não tem nada a ver com a tomada de assalto do governo por uma quadrilha. É bastante diferente. Totalmente diferente. Até porque lá, ao contrário daqui, depois do crime vem o castigo – algum tipo de castigo, pelo menos. Lá, ao contrário do que acontece aqui, o lobby é uma atividade legal, institucionalizada, aberta, às claras. O problema que houve com Jack Abramoff – se é que entendi direito o filme – foi que ele extrapolou todos os limites admitidos e admissíveis. Como eu dizia na época do Collor: achou que poderia roubar todos os elefantes do circo ao mesmo tempo sem que ninguém percebesse. As ações de Abramoff foram tão escandalosas, revelaram tanto o tamanho da corrução, da troca de favores escusa, entre lobistas e políticos, que provocou um gigantesco escândalo nacional. Os demais lobistas sentiram-se traídos, expostos. A ascensão e a queda de Jack Abramoff foi mostrada, além de neste filme, em um documentário, também de 2010, com o título duro, agressivo, de Casino Jack and the United States of Money, dirigido por Alex Gibney. Leonard Maltin diz que o documentário é um retrato provocativo e alarmante da corrupção do processo político e do abuso de poder, que parece assim uma versão real de Mr. Smith Goes to Washington – só que sem o final feliz. O documentário reproduz muitas das cenas de Mr. Smith Goes to Washington, no Brasil A Mulher Faz o Homem, o belo clássico feito em 1939 por Frank Capra, aquele incansável idealista, cheio de fé nos homens e na capacidade de o sistema ser aperfeiçoado. O filme com Kevin Spacey interpretando Jack Abramoff avisa de cara que é inspirado em fatos reais. Em geral, quando se usa essa expressão indica-se que a história foi alterada, romanceada; a expressão baseado em fatos reais, diferentemente, índica que se procurou ser bastante fiel à realidade. Interessante, porque, ao final, durante os créditos, vemos a cena real de Jack Abramoff discursando numa reunião do Partido Republicano – e as palavras que ele diz são exatamente, literalmente as mesmas que, no filme, Kevin Spacey pronuncia. E, no encerramento dos créditos, é dito que o roteiro se baseou nas reportagens sobre os fatos, e muitos dos diálogos são a transcrição fiel, ipsis literis, de falas dos personagens reais registradas em gravações. O filme foi lançado aqui em DVD e Blu-ray com o estranho título de O $uper Lobista – com um cifrão no lugar do S. Coisa de distribuidor brasileiro. O mais interessante, no entanto, é que, nos créditos finais (não há qualquer tipo de crédito inicial), o filme tem o nome de Bagman, o homem da mala. E o IMDb o registra com outro título completamente diferente – Casino Jack. Segundo o IMDb, Casino Jack foi o título original canadense – o filme é uma produção do Canadá. Nos Estados Unidos, virou Bagman. Coisa de louco. O filme custou cerca de U$ 15 milhões. Não é uma soma imensa para os padrões americanos, e o filme tem uma produção requintada, caprichada. Tem cenas em Washington, Miami, Los Angeles. Mas parece ter sido um fracasso comercial – segundo o Box Office Mojo, o filme, que estreou nos Estados Unidos em dezembro de 2010, até outubro de 2011 rendeu apenas US$ 1 milhão. Fazer filmes sérios, e bons, sobre temas políticos, parece que não está dando lucro. Mas dá prazer a quem gosta de cinema – e também a quem gosta de se informar sobre os fatos do mundo real, com uma visão crítica mas não sectária, doutrinária. Para essas pessoas, é um filme altamente recomendável." (George Hickenlooper)
68*2011 Globo - DirectorGarth JenningsStarsMartin FreemanYasiin BeySam RockwellMere seconds before the Earth is to be demolished by an alien construction crew, journeyman Arthur Dent is swept off the planet by his friend Ford Prefect, a researcher penning a new edition of "The Hitchhiker's Guide to the Galaxy."''Uma ficção científica insana, mas deliciosamente divertida, criada a partir da obra de Douglas Adams.
''O escritor britânico Douglas Adams talvez não soubesse, mas seu humor sarcástico e inteligente influenciaria e conquistaria pessoas até mesmo depois de sua morte. A literatura ficcional britânica certamente nunca mais foi a mesma – prova disso é Discworld, bem-sucedida série de livros escrita por Terry Pratchett, cujas obras têm um quê inconfundível do humor de Adams. ''O Guia do Mochileiro das Galáxias'' é um livro divertido, leve e agradável, mas ao mesmo tempo excêntrico e sarcástico. A abordagem – a destruição da Terra e uma viagem pelo espaço – pode parecer familiar a qualquer fã de ficção científica, mas o modo como a história é apresentada ao leitor faz com que o tema adquira extrema originalidade. O filme, como uma tentativa dedicada de se reproduzirem fielmente os acontecimentos narrados no livro, conta a história de Arthur Dent, um britânico comum. Sua vida segue normalmente, como a de qualquer outro terráqueo, até que uma companhia de construções aparece em frente à sua casa, ameaçando demolí-la – uma estrada será construída no local. A situação torna-se mais preocupante quando Ford Prefect, amigo de Arthur, anuncia que o mundo será destruído dentro de poucos minutos e dirige-se a um bar para tomar suas últimas canecas de chope. Logo em seguida, surgem em cena extraterrestres que dizem estar preparados para de fato demolir a Terra. Felizmente, Ford Prefect também não é um terráqueo e embarca nas naves extraterrestres, levando consigo o amigo Arthur. A partir daí, a jornada torna-se absolutamente insana – e, claro, deliciosamente divertida. A opção por atores menos famosos – mas não menos competentes, diga-se – dá ao filme um ar de novidade. A escolha de atores britânicos e norte-americanos propicia uma agradável mistura, seja de sotaques, seja de interpretações. Martin Freeman (que também esteve em Simplesmente Amor), britânico, vive o protagonista, também britânico, e talvez por isso sinta-se bem à vontade no papel. O núcleo de personagens principais é ainda composto por Trillian (Zooey Deschanel, numa interpretação seca), Zaphod Bebblebrox (Sam Rockwell, excêntrico como a personsagem), o simpático e deprimido robô Marvin (voz do britânico Alan Rickman, num timbre adequadíssimo) e, claro, Ford Prefect (Mos Def, numa das melhores atuações do filme). A direção de Garth Jennings opta por um estilo modesto, cuja prioridade é captar a essência da obra literária, e não apenas produzir um filme arrasa-quarteirões. A película não deixa de ser comercial, claro, mas o que se vê de fato é uma tentativa de recriar o humor de Douglas Adams. Como todas as adaptações, ''O Guia do Mochileiro das Galáxias'' suprime várias passagens do livro, o que obviamente deixará os fãs levemente desapontados, mas o enredo reduzido não parece confuso. O consolo para os fãs será o humor sarcástico e as situações mirabolantes que felizmente permanecem. Para os que não conhecem as obras de Douglas Adams, o filme não deixa de ser uma agradável diversão. Os efeitos visuais e sonoros são bem realizados, e concretizam satisfatoriamente as passagens absurdas do livro. Os quase 120 minutos de projeção passam rápido, por serem cheios de ação frenética e, melhor, humor inteligente. Agora, pelo menos, todos podem vivenciar de um jeito diferente a criatividade de Douglas Adams." (Flávio Augusto)
''Publicado em 1979, ''O Guia do Mochileiro das Galáxias'', primeiro livro de uma série criada por Douglas Adams, ganhou uma legião de fãs pela sua mistura de ficção científica empolgante com sátira social e política no estilo de Monty Python. Não por acaso, seu escritor também era britânico, assim como a trupe de Em busca do cálice sagrado, e partilhava do senso de humor que só os súditos da Rainha têm. O desejo de transportar esta aventura espacial para outras mídias partiu do próprio Adams. O Guia do mochileiro, na verdade, surgiu como uma série de rádio, que foi compilada em fitas cassete e só então virou o bestseller. Depois que conseguiu um espaço na TV britânica Adams chegou até a escrever duas versões do roteiro de um longa-metragem. Infelizmente, devido a um ataque cardíaco aos 49 anos, ele não viveu para assistir ao seu filme. Foram anos de negociações e indecisões sobre o projeto. O sinal verde para a produção só foi dado pela Walt Disney Pictures em outubro de 2003, dois anos depois do falecimento do autor. Com o OK da casa do Mickey, as tresloucadas personagens dO Guia do mochileiro não tardaram a ganhar novas formas de carne e osso. Revisado por Karey Kirkpatrick (Fuga das Galinhas), o roteiro de Adams chegou às mãos do maluco Spike Jonze (Adaptação), que recusou o projeto mas indicou um colega diretor de videoclipes para o trabalho. Assim entrou em cena Garth Jennings, conhecido pelos clipes de Coffee & TV (Blur), Right Here, Right Now (Fatboy Slim) e Imitation of Life (REM), entre outros. Ao lado do produtor Nick Goldsmith, seu sócio na Hammer & Tongs, Jennings leu o roteiro do filme e decidiu se arriscar pela primeira vez em um longa-metragem. Meses depois, todos os assentos da nave Coração de Ouro, veículo de "improbabilidade infinita" que carrega os protagonistas do filme através da galáxia, já estavam ocupados com ótimos atores e a produção finalmente estava pronta para zarpar. O aguardado projeto chegou às telas finalmente em maio de 2005. Porém, lamentavelmente, o resultado é apenas mediano. Apesar de ser uma produção claramente apaixonada, ela não tem sucesso em versar a essência do livro para o cinema. Boa parte do que soa histericamente engraçado no romance perde força quando lançado em cristalina computação gráfica nas telonas. A equivocada decisão de colocar um narrador ao fundo, numa tentativa bizarra de explicar o que já está sendo visto, também não ajuda. Não há nada mais redundante do que isso na linguagem da sétima arte. Será que o estúdio acredita que as piadas de Adams são inteligentes demais para o público dos multiplexes? Melhor sorte têm as cenas geradas por técnicas clássicas - como a parte em que os viajantes espaciais são transformados em sofás coloridos. Nessa seqüência, assim como em outra criada com bonecos de pano, os móveis animados são criados por stop-motion e o resultado é divertidíssimo. Fica a sensação de que se a produção tivesse sido criada com mais improviso e absurdos e tivesse menos da Magia Disney hollywoodiana teria funcionado muito melhor. Mas não entre em pânico, como diria o próprio Guia. Há idéias boas no filme. A melhor delas é mostrada logo no começo, quando o capítulo 23 do livro - que explica que os golfinhos são mais inteligentes que os humanos - ganha ares de musical da Broadway com direito a uma trilha sonora que ficará dias tocando na sua cabeça. O próprio narrador funciona bem em outros momentos da história, quando o Guia do Mochileiro das Galáxias, o guia de viagens intergaláctico carregado pelos heróis, entra em ação. Nessas passagens, que servem para explicar termos ou espécies, entram animações simplistas que pedem os tais divertidos comentários em off. Nelas, a relevância de imagem/narração se inverte e o texto de Adams é valorizado como nos livros. A versão nacional do filme também reserva uma grata surpresa (não é sempre que as distribuidoras nacionais têm boas idéias com essa): apesar do longa ter legendas, o sempre competente José Wilker dubla a voz do narrador. A solução é inteligente, já que as cenas em que ele interfere são geralmente recheadas de informação e colocar a legenda sobreposta às animações poluiria demais a imagem. Mas se a adaptação não é assim tão boa, pelo menos os atores se esforçam para que ela se mantenha acima da média. Martin Freeman, da série de TV The Office, está perfeito como o terráqueo Arthur Dent. Seu robe puído, toalha estampada e cara de alienado estão ótimos. O astro Sam Rockwell (Os vigaristas) também diverte como o presidente da galáxia Zaphod Beeblebox, um alien de dois rostos e três braços que tem como maior realização da carreira a criação da bebida Dinamite Pangaláctica. Mas quem rouba a cena é Marv, o andróide paranóide. Interpretado pelo anão Warwick Davis (Willow, Retorno de Jedi) e dublado por Alan Rickman (o Snape de Harry Potter), o personagem pessimista tem as melhores cenas do filme. A história começa minutos antes da explosão da Terra - planetinha inútil que será destruído para obras de melhoramento da Via Láctea - e mostra um britânico comum chamado Arthur Dent (Freeman) sendo poupado da catástrofe. Seu salvador é Ford Prefect (Mos Def), um alienígena que passou os últimos 15 anos estudando os hábitos terrestres disfarçado de ator desempregado para atualizar o Guia do Mochileiro das Galáxias, publicação interplanetária no melhor estilo guia de viagens. Juntos, eles começam a viajar pelo universo, auxiliados pelas espertas dicas do manual e acabam envolvidos na busca pela grande pergunta da Vida, do Universo e Tudo Mais. A sinopse pode até se parecer com a do livro, mas a história distorce momentos significativos da obra de Adams. O primeiro ponto a ser destacado é a inclusão do líder religioso Humma Kavula, personagem criado pelo próprio autor especialmente para o filme. Interpretado por John Malkovich (O retorno do talentoso Ripley), Humma, apesar de divertido, surge como mera desculpa para a aparição de algo que será utilizado numa das cenas finais. E por falar em final, não há qualquer semelhança entre o clímax do livro e o do longa-metragem. As mudanças são simplesmente lamentáveis e tiram toda a relevância filosófica de acontecimentos centrais da trama. Adams, que se considerava um ateu radical (Deus desapareceu em uma nuvem de lógica, escreveu), pontuou sua comédia literária com observações sagazes sobre a natureza humana, a nossa imbecilidade perante o planeta e ácidos comentários sobre as religiões. O filme, devidamente pasteurizado para a família, estrategicamente elimina todos esses pontos, transformando genialidade subversiva na pipoca engraçadinha da semana, com direito a momentos de comédia romântica. Se a idéia das mudanças era aumentar o potencial de público do filme, a Disney quebrou a cara. As bilheterias mundiais estão muito abaixo do esperado e uma continuação - devidamente plantada ao final do filme - só deve decolar se o filme gerar bons resultados em DVD. A obra de Douglas Adams merecia destino melhor." (Marcelo Hessel)
''Você sabia que toda aquela coreografia aquática que os golfinhos fazem em parques aquáticos é pura fachada? Que a poesia é usada por seres extraterrestres para torturar terráqueos? Que existe um peixe que, quando colocado no ouvido, é capaz de traduzir qualquer língua? Não? Então, assista à absurda e deliciosa comédia O Guia do Mochileiro das Galáxias e dê algumas boas risadas com essa e muitas outras teorias malucas relacionadas à vida extraterrestre. Arthur Dent (Martin Freeman, de Simplesmente Amor) é um cara bem comum. Um dia, mal tira seu roupão e tudo parece estar perdido: sua casa está prestes a ser demolida pela prefeitura para que em seu lugar seja construída uma estrada. Mas isso é somente o começo de uma série de situações completamente absurdas. Afinal, a destruição de sua casa não é o pior da história, mas sim que, em poucos minutos, as criaturas extraterrestres Vogons pretendem destruir o planeta Terra para construir uma via intergaláctica. O único que sabe disso é seu amigo Ford Prefect (Mos Def), um extraterrestre disfarçado de ator decadente, e é ele que leva Arthur a uma viagem espacial. Pegando carona na nave Coração de Ouro, os dois se unem a uma peculiar trupe. Tem o adorável robô Marvin (voz de Alan Rickman), cuja cabeça é grande e pensante demais para torná-lo qualquer coisa além de um depressivo; Zaphoo (Sam Rockwell), o presidente da Galáxia que é muito malvestido e não muito esperto, mas tem um carisma como poucos; o próprio Ford e Trillian (Zooey Deschanel), uma bela terráquea que Arthur havia conhecido alguns dias antes em uma festa a fantasia. Juntos, a bordo da Coração de Ouro, eles embarcam numa aventura a fim de se salvar de uma série de trâmites que acontecem ao longo do caminho. E, claro, guiados pelo livro mais vendido da galáxia, o Guia do Mochileiro das Galáxias, que dá dicas aos caronistas intergalácticos - a mais precisa delas é não entrar em pânico. ''O Guia do Mochileiro das Galáxias'' é bem engraçado, especialmente para os que são capazes de rir da própria cara. Porque é exatamente o que esta comédia inglesa faz. O narrador (que, na versão brasileira, é dublado por José Wilker) não pensa duas vezes antes de falar mal de terráqueos. Afinal, trata-se do ponto de vista de um livro extraterrestre. Além disso, o tempo todo o filme brinca com essa nossa "mania" de sempre querer respostas a todo momento, sem ao menos saber a pergunta. Aqui, o mundo não é dominado por presidentes caipiras, mas sim por seres um pouco menores e mais desprezados. A inteligência não é o forte dos humanos e, também por isso, os Vogons não pensam duas vezes antes de destruir o planeta. Afinal, o que eles estão perdendo com isso? Aqui, Deus não existe. Deus não criou a Terra, mas sim um arquiteto de planetas (vivido por Bill Nighy). Talvez por ser tão subversivo, ''O Guia do Mochileiro das Galáxias'' não fez muito sucesso: o valor que rendeu nos EUA não cobre os US$ 50 milhões gastos em sua produção. Mas quem disse que fracasso de bilheteria nos EUA é sinônimo de falta de qualidade? Eu que não. Mas nem tudo são flores nesta adaptação do livro homônimo de Douglas Adams, publicado pela primeira vez em 1979. O roteiro não é muito bem finalizado. Na realidade, está aí o maior problema do filme: o final. Parece que tudo foi feito com atenção até que perceberam que já estavam chegando perto das tradicionais duas horas de filme e resolveram concluir tudo de qualquer maneira. Isso sem citar os personagens mal-aproveitados, como o líder religioso Humma Kavula (John Malkovich). O que não compromete todo o filme, pois a diversão é garantida, pelo menos em mais da metade do longa-metragem dirigido por Garth Jennings (mais conhecido pela direção de videoclipes de bandas como Blur, REM e Pulp)." (Angelica Bito)
''Não há como negar o legado deixado pela trilogia de cinco livros de Douglas Adams, seja para a literatura, seja para a filosofia, bem como para o humor. É com perspicácia e bastante ironia que Adams constrói um universo inspirador e fascinante, que atiça nossa curiosidade a cada página e nos faz rir da sua genialidade satírica a todo tempo. Um dos grandes sonhos do escritor era ver sua obra transposta para os cinemas, mas, infelizmente, ele faleceu antes que isso viesse a acontecer. E eis que o filme chegou. Narrando a história do terráqueo Arthur Dent (Martin Freeman, o futuro Bilbo Bolseiro), um inglês que tem preocupações mundanas no dia-a-dia, ficamos sabendo como seu amigo, Ford Prefect (Mos Def), é na verdade um extraterrestre vindo do planeta Betelgeuse e que sabe que a Terra será destruída pela raça dos Vogons para uma construção de uma via expressa espacial. Tendo a vida salva por Arthur no passado, Prefect agora se vê na obrigação de retribuir o favor e acaba resgatando Dent poucos segundos antes que o planeta seja demolido. Daí, tem-se início uma louca viagem pelos confins da galáxia onde Arthur e Ford conhecem o presidente do universo, Zaphod Beeblebrox (Sam Rockwell), uma bela terráquea também sobrevivente da destruição do astro, Trillian (Zooey Deschanel), e um andróide paranóide depressivo chamado Marvin (Alan Rickman). Passando por planetas e enfrentando os mistérios da vida, os cinco se juntam numa louca missão contra um líder de uma seita religiosa, Huma Kavulla (John Malkovich), e buscam a pergunta para a resposta fundamental sobre a vida, o universo e tudo mais. É com esse roteiro aparentemente insano que o diretor estreante Garth Jennings conduz sua película. Em todos os aspectos, muito do livro de Adams está presente para nosso deleite: todas as críticas disfarçadas com piadas, toda a genialidade de um escritor que sabia não só lidar com palavras, mas fazê-las funcionar com comédia. E seguindo os passos de Douglas Adams, Jennings pontua o filme com passagens memoráveis que vão fazer os fãs da obra literária sorrir de uma orelha à outra. Como não reconhecer as portas que suspiram de satisfação, ou mesmo a baleia cachalote criada no ar por causa do Gerador de Improbabilidade. O roteiro é feliz, inclusive, ao fazer certas mudanças deixando a história mais atual, como na cenaem que Fordencontra Arthur deitado na lama diante de um trator e distrai os funcionários da demolição. No livro, Prefect usava de sugestão criando o engodo necessário. Aqui, ele traz cerveja e petiscos, soando até mais natural. Contando com um elenco maravilhoso e tão disposto a encarnar as loucuras do enredo, a fita nos brinda com interpretações únicas de Sam Rockwell como o escrachado presidente da galáxia que na verdade não preside nada, mas só tem função de distrair; de Martin Freeman como o abobalhado terráqueo que não enxerga sentido algum na lógica transviada do universo; de Malkovich, numa ponta interessante como Kavulla, mas que consegue passar toda a sua esquisitice em apenas poucos minutos; e ainda de Zooey Deschanel e Mos Def, criando para Trillian e Ford aquilo que eles deveriam ser. Mas os pontos vão mesmo para Alan Rickman, que apenas fazendo a voz do robô Marvin consegue se expressar tão bem que passa todo o sentimento de depressão e angústia no qual o andróide vive mergulhado. Fazendo aparições não menos importantes, estão Bill Nighy na pele de Slartbartfast, o construtor de mundos, e Stephen Fry, que com apenas sua voz e sotaque inglês, narra as passagens animadas do Guia do Mochileiro, o livro mais vendido em todo universo. A direção de arte e a equipe de efeitos não são menos eficientes. É com muita ousadia que vemos os Vogons se materializarem a nossa frente, que acompanhamos a nave Coração de Ouro vagando pelo espaço, ou mesmo quando seguimos Arthur e Slartbartfast no plano através da cosntrução de mundos. Porém,em ''O Guiado Mochileiro das Galáxias'', nem tudo são flores, e como não poderia deixar de ser, é justamente nos pontos em que a história decide fugir do enredo do livro que o filme decai, mesmo que aqui e ali soluções inteligentes sejam criadas e piadas eficazes trabalhadas. Em parte, o ritmo mais filosófico da escrita de Adams fica para trás, dando vazão à ação e à aventura, diminuindo o brilho da trama. E justamente por acrescentar pontos não contidos no livro, em dados momentos a película demonstra pressa para fazer caber tudo num filme de uma hora e meia, correndo com determinados momentos que poderiam e deveriam ser melhor explorados pelo roteiro e por Jennings. De qualquer maneira, a versão cinematográfica diverte e ainda mantém no ar parte da mensagem de Douglas Adams, algo que não é palatável para todos os nichos, diga-se de passagem." (Caio Viana)
Sountrack Rock = Al Green - DirectorLasse HallströmStarsHeath LedgerSienna MillerJeremy IronsThe fabled romantic Giacomo Casanova, after failing to win the affection of the Venetian woman Francesca Bruni, strives to discover the real meaning of love."Lasse Hallström é um daqueles realizadores mais que superficiais que conseguem bons resultados de bilheteira porque simplesmente consegue juntar 2 mais 2 naquilo que o grande publico deseja ver num filme. As suas obras são de teor familiar, que abrangem um vasto de leque de público e a sua composição clássica desperta os bons valores á muito perdidos no cinema norte-americano, o qual Hallström apesar de ser sueco realizou aí as suas fitas mais famosas (Chocolate, The Cider House Rules). Contudo é em Casanova que Lasse faz história, filmando uma aventura de época ambientado em Veneza, mas rodado na dita cidade italiana, coisa que não se fazia há mais 35 anos, porque de resto apenas por cenários e sets, simples atalhos para reduzir o orçamento. O filme em questão é mais uma adaptação da vida de Giacomo Casanova, esse seu nome completo, o terror da virgindade das moças de Veneza, o playboy falido mas sempre composto por charme foi protagonista de inúmeros filmes, telefilmes, séries de televisão e literatura romântica, no caso da cinematográfica Frederico Fellini realizou a sua bem sucedida versão em 1976 com Donald Sutherland no papel do romântico charlatão. Passado 29 anos é Heath Ledger que veste a pele do veneziano sedutor, numa aventura inicialmente modesta que remota às conquistas de Casanova e a perseguição pela sua heresia sexual por parte da igreja cristã, representado pelo carismático Jeremy irons. Além de tudo neste capítulo da vida fugaz de Giacomo Casanova é essencialmente envolvida pela sua conquista para com Francesca Bruni (Sienna Miller) que diferencia das outras mulheres de Casanova, pelo seu idealismo, adaptação e rebeldia feminina, o qual os velhos métodos de sedução por parte dele são ineficazes. Mesmo com o desafio de Bruni, a tarefa complica-se ainda mais com a chegada do noivo dela (Oliver Platt) e da exaustiva perseguição de Pucci (Jeremy Irons), o enviado da Igreja, determinado a terminar o reino de Casanova. Até a certo ponto, surpreendemo-nos pelo facto deste Casanova ser de origem Hallstrom, consegue enquadrar uma intriga divertida, cómica, inteligente e activante o qual o pano de fundo (Veneza) resulta num agradável regalo á vista e á descontracção mental do espectador, Heath Ledger sem ser o melhor Casanova do cinema, consegue o pedido, Oliver Platt é protagonista das cenas mais divertidas da fita e Irons garante presença forte, apenas a personagem Bruni é maltratada pelo estereotipo fraco de Sienna Miller, que apresenta pouca pujança no que requer a exibir rebeldia pedida. O pior é quando as ideias abundam até demasia e o desfecho torna-se difícil executar em beleza e indolor e é então que Hallstrom faz uma das suas; Casanova torna-se um aspirante a um cinema familiar típico Disney ou de outro estúdio congénere, a personagem principal representa ousadia e nada de pudor, enquanto o filme em si se revela no conservadorismo mais que prejudicial e o final encaminha-se na trapalhada das receitas batidas, na moralidade, nos bons valores, na conversação espalhafatosa de algumas personagens e a irreverência, o erotismo e luxúria dissipa-se entre as escolhas de sucesso fácil por parte dos envolvidos. Assim o pano cai e tudo aquilo visto neste filme do sedutor mais famoso da historia não faz jus á grandeza de sua figura, com alguns momentos de inspiração Casanova de Lasse Hallstrom se safa, mas facilmente é apanhado pela grande fabrica de fazer filmes." (Hugo Gomes)
- DirectorJean-Luc GodardStarsAnne WiazemskyJean-Pierre LéaudJuliet BertoA small group of French students are studying Mao, trying to find out their position in the world and how to change the world to a Maoistic community using terrorism."Iconoclasta olhar de Godard sobre Maio de 68 em que a alienação é retratada através da obsessão política. Crônica da revolta estudantil e um complemento a Pierrot Le Fou, transferindo a fuga do campo físico ao intelectual." (Daniel Dalpizzolo)
"Totalmente envelhecido, quase anacrônico, mas é um dos melhores documentos de sua época." (Demetrius Caesar)
Organizando o movimento e orientando o carnaval.
''Um ano antes do famoso Maio de 1968 Godard rodou três filmes, entre eles Duas ou Três Coisas que Sei Sobre Ela (2 ou 3 choses que je sais d'elle, 1967) e Weekend à Francesa (Week End, 1967). Mas foi com A Chinesa que o cineasta ganhou ares de profeta ao se aproximar da juventude pré-revolucionária que protagonizaria os episódios de desobediência civil na França do ano seguinte. Há quem diga que neste filme-panfleto o diretor esteve zombando das intenções políticas da geração que ficou marcada na história como o estopim da contracultura, colocando em xeque a fragilidade de seus atos e pondo às claras o desnível entre seu discurso e sua prática. Aos que assistem ao filme hoje resta a sorte do olhar pivilegiado, que distante do calor da hora pode apreender algo mais sutil que isto, apesar de carregados que estamos pela densa bagagem de opiniões sobre aqueles episódios e suas reverberações. Um filme em construção – é o que se lê em azul depois do prólogo onde várias coisas são ditas e o plano de intenções de A Chinesa já aparece resumido. Aqui Godard pleiteia para seu filme não apenas a condição de obra aberta, mas uma continuidade extra-fílmica que o inscreveria na história daquela geração e cujos próximos capítulos não caberiam a ele rodar. Sacada de mestre. Ele ainda aparecerá em espírito, através de sua voz de comando durante um corte de cena ou como entrevistador durante a primeira parte do filme. A câmera é desmistificada durante uma fala de Jean-Pierre Leáud, assim como o técnico de som ganha um close quando o mesmo ator sentencia: é por isso que falo! (porque há alguém para registrar?). A presença da equipe de filmagem e do diretor é mais um dos elementos usados para borrar os limites entre ficção e realidade. Num apartamento burguês-classe-média um grupo de jovens se reúne durante as férias, aproveitando a saída dos adultos para criar uma célula de estudos do marxismo-leninismo e do famoso Livro Vermelho da Revolução Cultural implementada por Mao Tsé-Tung na China. O livrinho vermelho de Mao será a grande peça com que o cinesta montará trincheiras, canções, jogos e discursos. Aliás, a direção de arte é uma das jóias de A Chinesa, que mistura o requinte de um serviço de chá aristocrático com uma metralhadora de brinquedo que vira rádio. Do clássico ao moderno, qualquer repertório nas mãos de Godard vira pop, sejam as idéias de Marx ou uma lousa em branco. Enquanto uma canção cujo refrão Mao, Mao (clique aqui para ver) é repetido à exaustão embala os futuros revolucionários na leitura do livrinho vermelho, Yvonne (Juliet Berto) serve o chá a Veronique (Anne Wiazemsky). Nesta relação Yvonne é a garota que chega do campo e aceita todos os trabalhos possíveis para sobreviver na cidade, inclusive a prostituição. Do outra lado Veronique simboliza a classe média francesa em sua sólida construção de cárater através da leitura e interpretação de pensadores clássicos. O diretor trabalha com estas duas perspectivas de mundo que se contrapõem durante todo filme e onde a personagem Yvonne ocupa o lugar do naïf, espontâneo e meio primitivo, que interpreta o mundo a partir de questões e metáforas práticas sem os elaborados discursos filosóficos de seus companheiros. Examinando algumas categorias do pensamento marxiano, Yvonne é a personagem-alegoria representando a reificação, a transformação do humano em produto, fato confirmado pelo relato de que ela ainda precise se prostituir quando os garotos não vendem o jornal ou não encontram lugar para lecionar. É uma contradição em si, eu sei. (...) Henri diz que eu sou a prova viva da solução às contradições do povo”, diz a personagem.. Ao definir o marxismo-leninismo, Yvonne o faz sob uma ótica particularíssima que marca seu papel no filme: quando o sol está se pondo, tudo é vermelho. Depois ele desaparece. Mas no meu coração o sol nunca se põe. Seja pelo peso do texto, recheado de citações e referências à filosófia e à política, ou pelas intricadas relações entre imagem e discurso criadas, A Chinesa não é um dos filmes mais populares do diretor. O tom panfletário, muitas vezes carregado mesmo quando balançeado pelos elementos pop, engata poucos pontos carismáticos de indentificação. Mas enquanto projeto, Godard dá uma aula sobre como produzir um filme estética e politicamente feito para os jovens de 1967. O objetivo era mesmo didático: usar o cinema para falar de política para quem consumia cinema. E naquele momento só uma geração conseguiria digerir o fluxo daquele discurso: a juventude. Depois de 1967 Godard opta pelo cinema político e o pratica durante os anos do Grupo Dziga Vertov. E ainda que desta fase nos restem poucos filmes, é possível dizer que o diretor nunca mais abandonou o tom de historiador/filósofo do presente, sempre fazendo das imagens um veículo para suas reflexões políticas, como podemos ver em Film Socialisme (idem, 2010) Há até uma engraçada coincidência entre A Chinesa e Film Socialisme: numa das cenas mais emblemáticas do filme de 1967 Yvonne aparece de chápeu chinês, comendo macarrão em frente a uma bomba de gasolina onde se lê Napalm Extra. No filme de 2010 Godard monta uma cena semelhante: a filha da família cuja vida está sendo registrada por uma jornalista aparece acompanhada por uma lhama (?), lendo um livro e usando um Ray Ban também em frente a uma bomba de gasolina onde – parece - podemos encher o tanque com um combutível-embuste, feito de algo que não é o petróleo. Ou seja, dois momentos históricos condensados num par de quadros de Godard. Por fim, deixo a fala com que Veronique encerra "A Chinesa" e que eu corri pra anotar durante a sessão: É ficção, mas levou-me perto do real." (Geo Euzebio)
{Sou apenas um trabalhador produzindo a revolução. Então seja um trabalhador e trabalhe. Do jeito que está indo não irá durar nem uma semana} (ESKS)
1967 Lion Veneza