PENDING {1}
List activity
26K views
• 0 this weekCreate a new list
List your movie, TV & celebrity picks.
- 251 - 347
- 347 titles
- DirectorJuan TaratutoStarsPaola BarrientosVictoria BernardezCacho BuenaventuraWhen El Mono dies, his three longtime friends try to recover from the loss and want to secure his little girl's future. But for Fernando, Mauricio and El Ruso this will not be easy. They decide to recover a big investment El Mono had made when he had bought a soccer player who was supposed to become a star.''Existem três filmes distintos dentro do argentino "Papéis ao Vento", todos ligados a uma corrente ou uma obra de sucesso do cinema do país. O primeiro é uma comédia dramática à moda de O Filho da Noiva (2001), com premissa sentimental e tom agridoce. Baseado no livro homônimo de Eduardo Sacheri, o filme tem como ponto de partida a morte de El Mono (Diego Torres), um fanático por futebol que deixa ex-mulher e uma filha. Seus três melhores amigos – Fernando (Diego Peretti), Maurício (Pablo Echarri) e El Ruso (Pablo Rago)– decidem ajudar no futuro financeiro da menina. A única herança deixada por El Mono foi o passe de um jogador de futebol que parecia promissor, mas acaba se revelando um perna de pau. Os amigos tentarão recuperar esse investimento apresentando o jogador como um craque a possíveis compradores. Aí começa o segundo filme, uma comédia de pequenos trambiques, no estilo de Nove Rainhas, ambientada no mundo do futebol, com seus tipos peculiares: o jornalista esportivo, o agente, o técnico, o milionário dono de time árabe. Por fim, o filme se revela também uma ode ao futebol, ao estranho tipo de amor que nasce entre um torcedor e seu clube –que El Mono tinha pelo Independiente e que seus três melhores amigos vão tentar transmitir à filha dele. Não se pode dizer que há uma linhagem de filmes argentinos sobre o tema. Mas há pelo menos um grande sucesso local (e internacional) nesse campo: a animação Um Time Show de Bola. Todos esses três filmes dentro de "Papéis ao Vento" tinham potencial para serem interessantes. Somados em uma única obra, eles roubam a força um do outro. Qualquer um deles exigiria um tempo de tela e um investimento em uma abordagem específica. Sem isso, o drama, o humor, a ode ficam pela metade. Há boas cenas de comédia no entrecho sobre a tentativa de vender o perna de pau como craque, no divertido retrato de tipos caricatos do mundo do futebol (que nós, brasileiros, podemos reconhecer facilmente). Esses momentos indicam que esse seria o melhor filme dentro do filme. Mas a comédia fica prejudicada não só pela falta de desenvolvimento, como também por uma solução artificial e previsível. É como se o diretor Juan Taratuto tivesse feito a opção de um filme para agradar a todos, unindo três fórmulas de sucesso garantido. Na prática, isso significou não fazer opção nenhuma." (Ricardo Calil)
- DirectorKiyoshi KurosawaStarsEri FukatsuTadanobu AsanoMasao KomatsuMizuki's husband Yusuke drowned at sea three years ago. When he suddenly comes back home, she is not that surprised. Instead, Mizuki is wondering what took him so long. She agrees to let Yusuke take her on a journey.''Com "Para o Outro Lado", o espectador verdadeiramente antenado pode ter, simultaneamente, sentimentos contraditórios. Por acompanhar o circuito com certo afinco, sabe que deve saudar um raro filme que não menospreza sua inteligência, fornecendo emoção e reflexão em boa medida. Por saber que Kiyoshi Kurosawa, de obras fenomenais como Cura, Pulse e Sonata de Tóquio, é o maior cineasta em atividade no Japão, entende que poderia esperar mais deste seu novo trabalho. E, ainda assim, é inevitável observar que estamos diante de um filme incomum, tanto por suas virtudes quanto por seus problemas. "Para o Outro Lado" é baseado em romance da escritora Kazumi Yumoto e foi vencedor do prêmio de direção da mostra Um Certo Olhar, do último Festival de Cannes. É desconcertante, em mais de uma maneira. Yusuke (Tadanobu Asano), marido de Mizuki (Eri Fukatsu), morreu afogado no mar, há três anos. Somente agora ele retorna ao lar para rever Mizuki. Ele a convida para conhecer o lugar onde ele vive agora, como gasta suas energias e com quem se relaciona. É um novo mundo que se abre para Mizuki. Mas esse mundo não seria dos mortos? Ao que tudo indica, sim. No entanto, não parecem mortos os que vemos lá. E esse mundo também não se parece com o além. O que estamos vendo, afinal? No cinema do grande Kiyoshi Kurosawa (que não tem parentesco algum com o mestre Akira), vivos e mortos costumam dividir as narrativas. Mas normalmente a fronteira entre um e outro é mais clara. Aqui, não se distingue. Os mortos por vezes podem ser chamados pela emoção, como na melhor cena do filme, que envolve uma melodia tocada ao piano. Ou simplesmente aparecer quando têm vontade. Mas há um senão a se fazer: a direção é um tanto fria, monótona em parte. Alguns poderiam dizer que o diretor está caminhando em terreno seguro, como poucas vezes em sua carreira. É verdade. Seguro demais, talvez. O filme parece ter um ritmo que corresponde ao cotidiano dos mortos ou daqueles que perderam entes queridos. O ritmo do além, possivelmente, segundo a visão do diretor. Não chega a ser enfadonho, mas por vezes soa fácil, calculado para agradar plateias sensíveis do circuito de arte. Isso nos afasta um pouco do enorme potencial emotivo causado por algumas sequências, sobretudo quando vemos de modo palpável nos personagens o medo da despedida ou a necessidade de afastamento." (Sergio Alpendre)
2015 Palma de Cannes - DirectorArnaud DesplechinStarsQuentin DolmaireLou Roy-LecollinetMathieu AmalricPaul is preparing to leave Tajikistan, while thinking back on his adolescent years. His childhood, his mother's madness, the parties, the trip to the USSR where he lost his virginity, the friend who betrayed him and the love of his life.''Eu me lembro. A frase que antecede a série de experiências resgatadas pelo personagem central de "Três Lembranças de Minha Juventude" remete à nostalgia e à evocação, à busca do tempo perdido que o cinema com seu poder de reconstituição vive usando para fascinar. No entanto, não se deve esperar do filme dirigido pelo cultuado diretor francês Arnaud Desplechin uma narrativa tradicional, em que o passado costuma ressurgir neutralizado, apagado do que foi negativo, idealizado. A memória nos filmes desse realizador fascinado pelo cinema de Ingmar Bergman (1918-2007) e influenciado pela psicanálise é traumática e pode se tornar enigmática em seus mergulhos subjetivos. Além disso, o título "Três Lembranças de Minha Juventude" subentende uma primeira pessoa que poderíamos acreditar ser o próprio diretor mimetizando Bergman, que reencenou sua infância em Fanny e Alexandre. Trata-se, contudo, de um umbigo ambíguo, pois quem Desplechin repõe em cena é Paul Dédalus, personagem principal de Como Eu Briguei (por Minha Vida Sexual), seu segundo longa, de 1996. O sobrenome desse personagem (reinterpretado por Mathieu Amalric quando aparece como adulto) também ecoa o de Stephen Dedalus, alter ego literário de James Joyce. Apesar de este jogo de referências sugerir um labirinto de espelhos para iniciados, o filme também oferece um relato sedutoramente simples debaixo de sua tentação para a complexidade. A estrutura distribuída em três partes, relativas à infância, à adolescência e ao início da vida adulta descreve as vivências de Dédalus tal como ele as imagina ou se lembra. A infância é, como a de todos, breve, fragmentar, feita de medos e de perguntas sem respostas, um amontoado mais de cacos do que de fatos. Já a adolescência dura um pouco mais e se torna uma aventura, uma trama política que mistura idealismo e troca de identidade, uma época em que as amizades são definitivas e simbióticas. O filme trata essas etapas como prólogos, capítulos breves que ocupam apenas um terço da duração do longa. Na terceira parte, em torno do primeiro amor e das turbulências das paixões juvenis, é que Desplechin afirma com maior vigor a vocação de seu cinema pelo risco. O vaivém emocional da relação de Paul com Esther pode até irritar nos excessos de psicodrama, mas o episódio oferece uma tal intensidade de vida que nele o diretor se liberta da carga teórica e faz um filme que voa." (Cassio Starling Carlos)
2015 Palma de Cannes - DirectorThomas VinterbergStarsCarey MulliganMatthias SchoenaertsMichael SheenIn Victorian England, the independent and headstrong Bathsheba Everdene attracts three very different suitors: Gabriel Oak, a sheep farmer; Frank Troy, a reckless Sergeant; and William Boldwood, a prosperous and mature bachelor.''A mais recente versão do romance de 1874 do escritor britânico Thomas Hardy sai em DVD sem ter estreado nos cinemas, apesar de reunir um elenco de ótimos atores, ter o nome de Thomas Vinterberg na direção e um título tão bonito em português. O cineasta dinamarquês que ascendeu como um dos autores do manifesto Dogma 95 refuta todo o decálogo dogmático numa adaptação que obedece fielmente ao cânone do cinema clássico. Carey Mulligan interpreta Batsheba Everdene, a jovem independente que oscila entre três amores e cuja história serve de pincel para Hardy traçar, sob disfarce romanesco, um de seus mais vigorosos painéis da sociedade vitoriana. O belga Matthias Schoenaerts, como o rústico Gabriel, nada perde na comparação com a interpretação de Alan Bates na versão dirigida por John Schlesinger em 1967. Falta, porém, um foco à direção de Vinterberg, que cumpre com profissionalismo os ditames da produção, mas faz um filme que oferece pouco, além de belas imagens." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorJosef von SternbergStarsEdward ArnoldPeter LorreMarian MarshA young man is haunted by the murder of a neighborhood pawn broker and hounded by the local police inspector who suspects that he is guilty.''Uma obra máxima da literatura mundial adaptada por um cineasta de primeira grandeza: "Crime e Castigo", do russo Fiódor Dostoiévski, pelo austríaco Josef Von Sternberg, com Peter Lorre no papel de Raskolnikov, o homem que mata uma senhora de penhores e passa a viver perturbado pelo crime que cometeu. Fosse uma adaptação cuidadosa, teria no mínimo quatro horas de duração. Mas muitos diziam que o livro era inadaptável, então talvez imaginá-lo como um longa de 84 minutos faça mais sentido. Um incrível poder de síntese é fundamental. Sternberg sempre esteve distante do convencional. Mesmo que aqui ele esteja cauteloso e um tanto deslocado, sua extraordinária capacidade de narrar uma história está presente e nos conduz pela perdição do personagem com as esquisitices que ele tão bem engendra. O "Crime e Castigo" de Sternberg é uma comprovação da força misteriosa de um gênio. Mostra que um grande cineasta, mesmo em circunstâncias desfavoráveis, deixa a marca de sua genialidade." (Sergio Alpendre)
- DirectorVittorio De SicaStarsVittorio De SicaVera BergmanCarla Del PoggioA teacher writes sample letters to a fictional Mr. Hartman with her students, but the recipient really exists.''O nome de Vittorio De Sica ficou associado a clássicos do neorrealismo italiano, mas o ator-diretor já vinha realizando filmes desde o período fascista. "Madalena, Zero em Comportamento", de 1940, segundo longa dirigido por De Sica, é uma comédia ligeira e escapista nos moldes do cinema italiano sob Mussolini. A personagem-título é uma aluna indisciplinada que acaba envolvendo a jovem professora numa confusão romântica. Além de dirigir, De Sica interpreta o papel de um jovem rico, sedutor e apaixonado. A trama cômica se baseia na troca de papeis, com as duas personagens femininas e a dupla composta pelos galantes De Sica e um primo confundindo uns aos outros. Baseado numa peça de teatro, o filme segue recursos elementares da encenação teatral, como o entra e sai de personagens, para provocar surpresas, enganos e revelações. Aqui ainda não aparecem as marcas dos grandes melodramas sociais posteriores que deram renome a De Sica, mas apenas a habilidosa direção de atores." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorsVincente MinnelliFred ZinnemannStarsJudy GarlandRobert WalkerJames GleasonIn 1945, during a 48-hour leave, a soldier accidentally meets a girl at Pennsylvania Station and spends his leave with her, eventually falling in love with the lovely New Yorker.''Escalado para dirigir este filme, Fred Zinnemann desentendeu-se com a estrela Judy Garland no início das filmagens e ela indicou Vincente Minnelli, com quem tinha feito, no ano anterior, o maravilhoso "Agora Seremos Felizes". Minnelli filma então seu quarto longa, confirmando o talento demonstrado no filme precedente. Apesar de produzido pelo mago dos musicais Arthur Freed, "O Ponteiro da Saudade" não é um musical, mas um adorável romance em que Joe Allen (Robert Walker), um soldado interiorano com apenas dois dias de licença na turbulenta Nova York, conhece Alice Maybery (Judy Garland), por quem se apaixona. Como sempre nos filmes de Minnelli, temos cenas que demonstram seu apuro estético e sua habilidade para movimentos de câmera em planos longos. É muito bem sucedido também na atmosfera alucinante que constrói ao redor do romance. A burocracia, a multidão no metrô, a amiga tagarela: tudo parece conspirar contra eles. Mas de alguma forma a magia se faz, como era comum na fábrica dos sonhos daqueles tempos." (Sergio Alpendre)
- DirectorAkira KurosawaStarsTatsuya NakadaiTsutomu YamazakiKen'ichi HagiwaraA petty thief with an utter resemblance to a samurai warlord is hired as the lord's double. When the warlord later dies the thief is forced to take up arms in his place.''Como Dodeskaden e Dersu Uzala, os filmes anteriores de Akira Kurosawa, "Kagemusha - A Sombra do Samurai" teve produção difícil. Apesar de sua importância para a história do cinema mundial, Kurosawa ouviu negativas de diversas produtoras japonesas, o que explica a terrível decadência que a cinematografia do país enfrentou desde o final dos anos 1960. Somente quando foi aos EUA, onde encontrou George Lucas e Francis Ford Coppola, admiradores de seu trabalho, a produção do filme tornou-se uma realidade. Os dois jovens diretores da Nova Hollywood conseguiram um adiantamento da Fox em troca dos direitos de distribuição internacional, o que incentivou a Toho, produtora japonesa que já havia realizado filmes de Kurosawa, a entrar de vez no projeto, cobrindo os custos restantes. Nasce, assim, um monumento inesquecível de três horas sobre a disputa pelo poder entre três senhores feudais no Japão do século 16. O senhor Shingen comanda o clã dos Takeda com firmeza, determinação e uma boa dose de violência. Sua presença, imóvel como uma montanha, diz o estandarte dos Takeda, garante a força que seus comandados precisam nas batalhas. Mas ele é ferido gravemente, num momento de lazer e descuido. Sua morte iminente enfraqueceria o clã, deixando-o vulnerável às ambições de seus maiores inimigos, os senhores Ieyasu e Nobunaga. A solução é usar um sósia no lugar de Shingen, escondendo a morte até mesmo de seus comandados. O sósia seria um ladrão condenado à crucificação (sim, tempos feudais). Aos poucos, o que é bem típico de Kurosawa, percebemos que o sósia não apenas imita, mas acredita ser o próprio senhor Shingen. Essa crença, que muitas vezes se assemelha mais a uma possessão, será um agravante na crise que se instalou na nação, cada vez mais dividida. O grande historiador de cinema Donald Richie contesta a escalação de vários atores, inclusive a de Tatsuya Nakadai no papel duplo do Senhor Shingen e do sósia. Com todo o respeito a Richie, é difícil enxergar as deficiências que ele aponta no grande ator, que já havia trabalhado com Kurosawa, mas nunca como protagonista. Tatsuya Nakadai é excessivamente teatral, segundo Richie, mas é impossível imaginar um outro ator no papel. Bem, talvez Toshiro Mifune, mas Kurosawa tinha brigado com ele durante as filmagens de O Barba Ruiva, e se recusava a contratá-lo novamente. As atuações combinam com a opulência que marca Kagemusha, um dos longas mais controlados e estruturados do mestre. O uso das cores mostra sua habilidade pictórica. Céus vermelhos ou incrivelmente alaranjados temperam as cenas de batalha. Em uma cena de pesadelo, o sósia se perde num cenário fauvista que lembra as telas mais berrantes de André Derain. Nas batalhas, aliás, reside uma boa dose de mistério, em que ora o inimigo é ocultado, ora a própria ação. A versão lançada agora em DVD é a japonesa, integral, não a que a Fox remontou, com a aprovação de Kurosawa, para a distribuição internacional, com 17 minutos a menos. O relativo sucesso mundial de "Kagemusha" recuperou o diretor diante da indústria japonesa e possibilitou a produção de "Ran", mais uma obra-prima, cinco anos depois." (Sergio Alpendre)
53*1981 Oscar / 38*1981 Globo / 1980 Palma de Cannes - DirectorMartin ScorseseStarMartin ScorseseWorld-renowned director Martin Scorsese narrates this journey through his favorites in Italian cinema.''Viajar pelos cinemas americano e italiano com um grande cineasta como guia é um convite irrecusável. A caixa O Cinema por Scorsese reúne dois documentários em que o diretor apresenta aspectos decisivos da história dessas duas cinematografias com uma visão afetiva e didática. Em Uma Viagem Pessoal pelo Cinema Americano (1995), Scorsese expõe a gênese e o desenvolvimento de elementos estruturais do cinema americano, da emergência da forma do espetáculo, consolidada por D.W. Griffith na década de 1910, às liberdades narrativas e estilísticas da geração dos anos 1960 que anunciaram o esgotamento do modelo hollywoodiano até então predominante. Em vez de priorizar o gênio do sistema, Scorsese valoriza o papel dos diretores na invenção e na solução de problemas e distingue suas personalidades muitas vezes em diálogo ou embate com um modo de produção coercitivo. Por meio da noção de estilo, ele demonstra como foi possível adequar as mais diversas visões pessoais a um esquema industrial e como o cinema americano, em seus grandes momentos, soube solucionar a equação arte e comércio sem substituir um pelo outro. O documentário também se destaca por mapear o território dos filmes B e por evidenciar a influência de um autor tão contra a corrente como John Cassavetes. A intenção de "Minha Viagem à Itália" é chamar a atenção do público mais jovem para obras que redefiniram a linguagem cinematográfica e Scorsese reivindica a influência que sofreu delas para apresentá-las. O recorte segue fielmente o cânone, alinhando os incontornáveis Rossellini, De Sica, Visconti, Fellini e Antonioni. Mesmo não sendo uma seleção surpreendente, o documentário tem trechos indescritíveis quando Scorsese analisa com um misto de paixão cinéfila e inteligência formal as liberdades e inovações de Europa '51, Umberto D, Sedução da Carne, A Doce Vida ou O Eclipse." (Cassio Starling Carlos)
"Muitos dos quase 60 filmes dirigidos pelo premiado cineasta americano Martin Scorsese, 76, são inegáveis tributos ao cinema. Neste box, dois documentários produzidos pelo diretor dão a dimensão dessa paixão. O primeiro, ''Uma Viagem Pessoal Pelo Cinema Americano'', é a reunião de suas memórias e influências, notadamente de filmes policiais produzidos em Hollywood nas décadas de 1940 e 1950. No segundo documentário, "Minha Viagem Pela Itália", o foco está nos mestres do cinema da terra de seus pais. Entre outros. Scorsrsr apresenta e comenta filmes dos monstos sagrados Federico Fellini. Luchino Visconti, Roberto Rossellini e Vittorio De Sica. Uma aula de cinema." (Thales de Menezes) - DirectorFrank OzStarsMatthew MacfadyenPeter DinklageEwen BremnerChaos ensues when a man tries to expose a dark secret regarding a recently deceased patriarch of a dysfunctional British family."Depois de "Morte no Funeral", Frank Oz só voltou a filmar em 2011, quatro anos depois, mesmo assim um episódio para TV. É o preço que pagam hoje os iconoclastas do cinema. E Oz não fez meia porção neste seu filme de 2007 em tudo se passa num funeral, ou antes: num funeral em que um segredo maior sobre o respeitável finado corre o risco de ser revelado." (* Inácio Araujo *)
- DirectorJ BlakesonStarsChloë Grace MoretzMatthew ZukGabriela LopezFour waves of increasingly deadly alien attacks have left most of Earth in ruin. Cassie is on the run, desperately trying to save her younger brother.''O principal, talvez único, mérito de "A 5ª Onda" é jamais disfarçar suas intenções. Já na primeira cena, fica claro que a produção vai copiar a fórmula de sucesso de filmes recentes para "young adults" (jovens adultos). Como em Jogos Vorazes e Divergente, "A 5ª Onda" traz como protagonista uma adolescente - Cassie (Chloë Grace Moretz), de 16 anos - que, em um futuro distópico, torna-se esperança para salvar o mundo. Enquanto luta pela sobrevivência de si mesma, de sua família e da humanidade, ela encontra tempo para descobrir o amor e se dividir entre dois rapazes fortes, porém sensíveis. Há ainda o indefectível grupo de jovens rebeldes que se forma para combater um núcleo de poder ambíguo, manipulador. E esse poder será obrigatoriamente liderado por algum ator de renome (no caso, Liev Schreiber), em uma tentativa de emprestar credibilidade à produção. Tendo repetido a essência da fórmula, resta ao filme buscar alguma identidade nos detalhes. Baseado no best-seller de Rick Yancey, ''A 5ª Onda" mostra uma invasão alienígena que tenta destruir a humanidade em quatro fases: corte de qualquer tipo de energia, inundações, gripe aviária e uma ocupação por terra. Nesse prelúdio, o filme parece um pout-pourri de ficção científica, com um pouco de Independence Day, O Dia Depois de Amanhã, Guerra dos Mundos, Eu Sou a Lenda, Epidemia e assim vai. Na quinta onda - em que os alienígenas assumem forma humana para dominar o mundo -, a inspiração se torna mais singular: Vampiros de Almas, de Don Siegel, talvez o filme de ficção científica mais copiado da história. O resultado dessa colcha de retalhos é, inevitavelmente, um filme sem personalidade. Mas o maior problema de "A 5ª Onda" não é sua porção apocalíptica, mas seu entrecho romântico, no qual Cassie esquece seu amor platônico por um garoto de colégio (Nick Robinson) para viver uma paixão carnal com um misterioso fazendeiro (Alex Roe). Nesse momento, o filme substitui o genérico pelo risível, com diálogos que envergonhariam os autores de novelas brasileiras. Ao final, sempre transparente nas suas intenções, "A 5ª Onda" deixa patente sua vontade de se tornar uma franquia - um desejo que pode ser frustrado pela má qualidade desse primeiro episódio." (Ricardo Calil)
- DirectorJason MooreStarsAmy PoehlerTina FeyMaya RudolphTwo sisters decide to throw one last house party before their parents sell their family home.''Nessa arte das aparências que é o cinema, loiras e morenas costumam ser postas juntas para animar as tramas. Nas comédias, a combinação funciona ainda mais ao contrapor personalidades e provocar o riso com os desencontros. "Irmãs" reúne mais uma vez a loira Amy Poehler e a morena Tina Fey, dupla cujo poder incendiário é conhecido e garantido. As irmãs Ellis pouco se parecem e são apresentadas como casos distintos de quarentonas sem saber que rumo tomar na vida. A certinha Maura (Poehler), uma Claudia Leitte desplastificada, trabalha como enfermeira e acaba de se divorciar. A atrapalhada Kate (Fey), uma Ivete Sangalo antes da fama, vive desempregada e nem tem onde morar. As primeiras cenas dão a cada uma direito a show próprio. A loira é quase burra de tanta candura. A morena improvisa e faz graça de palhaça. Até aí o filme parece ser mais uma comédia morna. A notícia de que os pais decidiram vender a casa em que as Ellis cresceram serve para reaproximá-las. É o que falta para "Irmãs" se transformar em comédia maluca. O humor do filme não é do tipo sutil, mas também não depende só de gente soltando puns e falando baixarias. Quando os pais pedem a elas para esvaziarem seus quartos, "Irmãs" mostra como o bom humor requer mais que piadas prontas. A relação de cada uma com seus pertences introduz velocidade vertiginosa para ninguém resistir. Ali, a própria ideia de arrumação é virada do avesso numa sucessão de gags visuais que nos avisa de que a loucura apenas está começando. A volta à infância culmina numa sequência de festa com a qual as Ellis se despedem do passado revivendo loucurinhas. O reencontro da turma, 20 anos depois, destrói as últimas ilusões de maneira ácida. Nessa parte, que dura quase até o fim, "Irmãs" vira um pandemônio visual e cômico. Ao contrário das comédias brasileiras, em que os atores interpretam piadas e esperam o público responder, "Irmãs" não dá fôlego por meio de uma sucessão de cenas físicas que confirmam o riso como parente próximo da anarquia." (Cassio Starling Carlos)
- DirectorCraig GillespieStarsChris PineCasey AffleckBen FosterThe Coast Guard makes a daring rescue attempt off the coast of Cape Cod after a pair of oil tankers are destroyed during a blizzard in 1952.''Horas Decisivas" não é só um filme inspirado em um episódio real de 1952, como também um longa contemporâneo que parece ter sido realizado na década de 1950. Se você fechar os olhos durante a projeção, será possível imaginá-lo em preto e branco, talvez sonhar com James Stewart e Humphrey Bogart nos papéis principais. Ao abri-lo, você verá o dinheiro gasto em efeitos especiais e lembrará que está em 2016. Baseado no livro homônimo, "Horas Decisivas" é orgulhosamente antiquado, construído em torno de uma história clássica de heroísmo de homens comuns, com uma direção correta de Craig Gillespie e atuações sólidas de Chris Pine e Casey Affleck. Em 1952, uma tempestade histórica atingiu a costa da Nova Inglaterra, leste dos Estados Unidos, partindo ao meio o navio-tanque SS Pendleton e deixando mais de 30 marinheiros presos em seu interior. Coube ao engenheiro Ray Sybert (Affleck), principal oficial a bordo, a tarefa manter todos vivos em alto-mar pelo maior tempo possível, à espera de um improvável resgate. Na costa, o capitão da guarda costeira Bernie Webber (Pine), prestes a se casar, aceita a missão de conduzir um pequeno barco para o resgate. No percurso, enfrenta uma série de intempéries: ondas de 20 metros, ventos com força de furacão, temperaturas congelantes, além de uma bússola quebrada e um motor defeituoso. Mas ele é americano e não desiste nunca. A psicologia também parece pertencer aos anos 50: Ray é um engenheiro acostumado a lidar com máquinas que terá de aprender a liderar homens. Já Bernie é um jovem hesitante, marcado por um resgate frustrado, que tem de superar o trauma. Por nem um minuto o espectador duvidará de que a resolução da trama será exatamente como ele imaginou desde a primeira cena – o que torna o filme uma experiência confortável e esquecível. Isso não quer dizer que "Horas Decisivas" seja desprovido de méritos. Por exemplo: os efeitos especiais nunca são usados para ostentar tecnologia, mas para acentuar o drama dos personagens. Um entretenimento antiquado também tem seu charme." (Ricardo Calil)
- DirectorNaji Abu NowarStarsJacir Eid Al-HwietatHussein Salameh Al-SweilhiyeenHassan Mutlag Al-MaraiyehIn the Ottoman province of Hijaz during World War I, a young Bedouin boy experiences a greatly hastened coming-of-age as he embarks on a perilous desert journey to guide a British officer to his secret destination.''No deserto, o som de um disparo ricocheteia entre vales e dunas até desaparecer. O sol empurra os peregrinos para embaixo das sombras de estranhas formações rochosas. Um olho d'água traça a fina linha entre a vida e a morte. Viajando por esse violento cenário, o jovem Theeb é empurrado da infância diretamente à vida adulta. A aventura, narrada no filme jordaniano "O Lobo do Deserto", pode ser premiada com o Oscar de melhor produção estrangeira. Esse longa, estrelado por beduínos amadores e filmado na Jordânia, é a estreia do britânico jordaniano Naji Abu Nowar como diretor. "O Lobo do Deserto" narra, a partir da perspectiva ingênua de Theeb, o contexto de eventos políticos que definiram o Oriente Médio nas décadas seguintes – o mesmo período, aliás, do épico Lawrence da Arábia. A história ocorre simultaneamente à Revolta Árabe, quando nacionalistas árabes lutaram contra o Império Otomano pela independência dessa região. Essas batalhas estão inseridas no âmbito da Primeira Guerra Mundial (1914-1918). Mas, enquanto em Lawrence da Arábia o protagonista era uma peça estratégica – e interessada– nos eventos políticos, em "O Lobo do Deserto" o jovem Theeb é um beduíno mais preocupado com seus laços familiares e suas tradições. Theeb, cujo nome significa lobo em árabe, caminha na periferia das grandes maquinações políticas após a visita de um misterioso inglês que pede a ajuda de uma tribo local para encontrar um poço de água no deserto. Theeb e seu irmão são obrigados a acompanhá-lo. A viagem é contada como um filme de faroeste, em meio a disputas entre homens armados. Os conflitos são especialmente dramáticos quando o menino passa a depender de um de seus inimigos para sobreviver, o que lhe coloca na posição de fazer difíceis escolhas. Ele entende, então, as tradições de sua tribo, em que a ideia de tornar-se adulto está ligada ao lobo. A atuação do jovem – que nunca havia trabalhado como ator – é um dos triunfos desse filme. Outra das qualidades da produção é o cenário. "O Lobo do Deserto" foi rodado em Wadi Rum, onde também foi recentemente filmado Perdido em Marte." (Diogo Bercito)
88*2016 Oscar / 2014 César - DirectorRobert SchwentkeStarsShailene WoodleyTheo JamesJeff DanielsAfter the earth-shattering revelations of Insurgent, Tris must escape with Four beyond the wall that encircles Chicago to finally discover the shocking truth of the world outside.''Jovens lutando contra um governo tirano, liderados por uma heroína loirinha. Não, não é Jogos Vorazes. É Divergente, também uma trilogia de literatura juvenil sci-fi que chega agora ao terceiro filme, com acertos e erros cada vez mais acentuados. Como em Jogos Vorazes, o último livro foi dividido em dois filmes. Faturar é preciso. A diferença maior está mesmo na mocinha. Enquanto Jennifer Lawrence tem aquela presença forte na tela, bonitona e voluptuosa, a atriz principal de "Divergente" tem uma beleza comum. Shailene Woodley parece aquela colega que todo mundo teve no colégio, o que a transformou em uma das favoritas dos teens americanos. Ela interpreta Tris, que mora numa Chicago semidestruída, cercada por um muro intransponível e dividida em castas que, após um tempo de convivência pacífica, começam a se enfrentar. Os dois primeiros filmes da franquia foram dedicados a mostrar como ela se apaixona pelo galante Quatro (Theo James) e se relaciona com o irmão covarde, Caleb (Ansel Egort), e o amigo traiçoeiro Peter, papel de Miles Teller, a revelação de Whiplash e não por acaso o melhor desempenho da série. A prática habitual é auxiliar o elenco jovem com gente tarimbada. Nos primeiros filmes apareceram Ashley Judd e Kate Winslet. Neste, é Naomi Watts, quase irreconhecível de cabelos longos e escuros como Evelyn, mãe de Quatro e líder de uma das castas. Os quatro jovens conseguem ultrapassar o muro para descobrir que essa Chicago do futuro é na verdade uma experiência comandada por David, personagem caricato em sua mesquinhez, que o veterano Jeff Daniels não se esforça para melhorar. A trama trilha dois caminhos: Tris se defrontando com os segredos do experimento e Quatro tentando impedir que a guerra devaste Chicago. Como filme de ação, funciona muito bem. O problema é ser incompreensível para quem não viu os dois primeiros. Mas Divergente e Insurgente tiveram tanto público que a bilheteria deste está garantida. E também da conclusão da saga, "Ascendente", prometida para 2017. Definitivamente, filmes apenas para iniciados." (Thales de Menezes)
- DirectorJohn FordStarsJames StewartJohn WayneVera MilesA senator returns to a Western town for the funeral of an old friend and tells the story of his origins.**
''O Homem que Matou o Facínora" é um dos grandes faroestes de John Ford. E esse longa de Ford foge à definição de John Carpenter, que o via como um bom sargento. Aqui são as relações delicadas entre aparência e realidade que movem a história em que se cruzam um famoso pistoleiro (papel deJohn Wayne) e um advogado, futuro senador (o atorJames Stewart).'' (* Inácio Araujo *)
35*1963 Oscar - DirectorGavin HoodStarsHelen MirrenAaron PaulAlan RickmanCol. Katherine Powell, a military officer in command of an operation to capture terrorists in Kenya, sees her mission escalate when a girl enters the kill zone, triggering an international dispute over the implications of modern warfare.''Decisão de Risco" é menos um filme de guerra do que uma peça moral, que tenta colocar ao espectador, de forma complexa, uma pergunta simples: num combate em que milhares de pessoas estão em risco, qual é o valor de uma única vida? Todo aparato tecnológico da produção e a narrativa sobre a guerra ao terror estão lá como pano de fundo para que os personagens possam apresentar seus diferentes pontos de vista sobre a questão. Na trama, três terroristas perigosos se reúnem em Nairobi, no Quênia, e são registrados por câmeras instaladas em um avião que sobrevoa o local e por um drone com forma de mosca. As imagens são transmitidas para um grupo de militares, juristas e políticos na Inglaterra. As cenas mostram que há dois homens-bomba entre eles. O objetivo, então, é bombardeá-los antes que eles explodam algum lugar público. Mas uma menina se instala ao lado da casa onde estão os terroristas, e complica a decisão. Bombardear o local provavelmente significaria a morte da menina. Em dado momento, parece que a trama vai descambar para uma comédia sobre burocracias e hierarquias, mas logo ela volta ao drama moral. Os personagens podem ser estereotipados, mas o debate sobre a questão central não é simplificado para facilitar a vida do espectador – e esse é o principal elogio que se pode fazer a "Decisão de Risco". Ao final, há um tanto de sentimentalismo. Mas o diretor tem o mérito de criar tensão e emoção com um filme de guerra construído em torno de duelos verbais, não de explosões. Claro, o fato de contar com uma série de atores britânicos notáveis ajuda muito nessa tarefa." (Ricardo Calil)
- DirectorRobert SiodmakStarsMaurice ChevalierPierre RenoirMarie DéaAfter one of her fellow taxi dancers is murdered by an unknown man who she met through a personal column advert, Adrienne Charpentier is recruited by the police to answer a series of similar adverts to try to track down the killer.**
''Piéges" foi um dos filmes realizados pelo alemão Robert Siodmark na França antes de partir para EUA, onde faria obras marcantes. Filme a descobrir, sem falta.'' (* Inácio Araujo *) - DirectorJohn MiliusStarsDanny GloverWillem DafoeBrad JohnsonDuring the air war over Vietnam, a U.S. Navy A-6 Intruder bomber pilot schemes with a hardened veteran to make an unauthorized air strike on Hanoi.****
''O TCM tem láseus problemas: não raro, as cópias tem qualidades deficientes, o canal não oferece escolha entre versão dublada ou legendada, e com frequência usao formato plano, seja qual for o formato original do filme, provocando horrível falta de enquadramento. Mas há filmes que só se consegue ver lá. Como Intruder: Missão de Alto Risco que, por sinal, foi lançado em cinema como ''Intruder A-6 - Um Voo Para o Inferno''. Em 1991, a Guerra do Viernã já tinha acabado, a Guerra Fria também r o comunismo, na prática, idem. Não para John Millus. Seu filme é uma espécie de vingança de valentes aviadores que adoram a ação e violam regras quase que por prazer, conservador, certamente, o filme desmonstra o talento do diretor e reencontra a tradição do filme de amizade, em que o perigo e a audácia servem para reforçar os laços.'' (* Inácio Araujo *) - DirectorsJimmy T. MurakamiRoger CormanStarsGeorge PeppardRobert VaughnRichard ThomasA farm boy recruits a band of outlaws to save the planet Akir from dark forces that threaten to wipe them out from the face of the universe. A battle stretching beyond the stars begins here."Aos 90 anos, com mais de 450 longas produzidos, o americano Roger Corman é o rei imbatível dos filmes de baixo orçamento. Atacou em vários gêneros e lançou gente que depois faria parte do panteão de Hollywood, como Jack Nicholson. A aventura sci-fi "Mercenarios da Gláxia", além de divertir, mostra bem seu estilo. Apesar de ser creditado a Jimmi T. Murakami, quem dirige é mesmo Corman. Ele usa estrutura de faroeste para a história de um fazendeiro que paga pistoleiros espaciais paraproteger seu planeta. Uma aula de cinema barato e criativo." (Thales de Menezes)
- DirectorIda PanahandehStarsSareh BayatSahar AghiliPayam AhmadiniaA woman tries to mend the broken pieces of her last life, as she is now involved in a new relationship with a man.''Descrever "Nahid - Amor e Liberdade" como um filme sobre a condição feminina na sociedade islâmica seria correto, mas insuficiente. Esse tipo de resumo também corre o risco de provocar fastio no público, que tende a reagir anestesiado com um ah, tá, mais um drama sobre a falta de liberdade no Oriente Médio.... Em sua estreia no cinema, a diretora Ida Panahandeh, nome até há pouco sem ressonância nas telas do Ocidente, oferece o prazer das surpresas. Vencedor da mostra Um Certo Olhar, no Festival de Cannes de 2015, o filme acompanha as dificuldades de uma jovem divorciada que luta para manter e assegurar uma boa educação para o filho. O trabalho como digitadora mal cobre o aluguel e ela ainda sofre com uma tendinite. O inquieto garoto prefere matar aulas e passa o tempo perambulando e tentando ganhar algo num bar de jogos. O pai dele, ex-viciado em heroína, não tem nada fixo e é perseguido por dívidas por uns caras meio durões. E há também Massoud, viúvo bem-sucedido com quem Nahid mantém um relacionamento secreto e quer se casar. No entanto, a lei impede a mulher divorciada de manter a guarda, caso se case novamente. Esse conjunto de situações serviria para fazer de Nahid uma perfeita personagem-vítima, moldada para a plateia se identificar e pela qual torcer. Panahandeh demonstra saber controlar essa resposta e, no entanto, a evita, revelando atitudes dúbias de Nahid, mentiras e ações que a tornam pouco simpática. O filme avança fazendo um jogo de aproximação e distância da personagem. Se, num primeiro momento, os esforços e luta dela parecem legítimos, em seguida, outras escolhas não têm sentido. Além das opacidades da protagonista, a narrativa muda de perspectiva com frequência, detém-se nos personagens masculinos, agregando dimensões inesperadas. A figura do pai, por exemplo, é negativa, mas não se reduz à caricatura do machismo. O noivo, mesmo quando projeta bondade e proteção, também reproduz o vínculo de dependência dos homens, do qual Nahid não consegue se libertar. Dessa maneira, o longa deixa de ser um melodrama convencional sobre uma mãe coragem e seus sofrimentos e ganha amplitude social. Em vez de se satisfazer com as facilidades do filme-panfleto, Ida Panahandeh coloca o problema, faz a denúncia, mas não oferece nenhuma solução pronta." (Cassio Starling Carlos)
2016 Palma de Cannes - DirectorLorenzo VigasStarsAlfredo CastroLuis SilvaJericó MontillaArmando, a 50 year man, seeks young men in Caracas and pays them just for company. One day he meets Elder, a 17 years boy that is the leader of a criminal gang, and that meeting changes their lives forever.''Logo nos momentos iniciais de "De Longe Te Observo", do venezuelano Lorenzo Vigas, o que chama a atenção são os olhos. No caso, os olhos de um homem de classe média que visa um rapaz pobre como se fosse sua presa. E é sua presa: no ônibus ele apresenta um maço de dinheiro para o rapaz. Desde já sabemos que a homossexualidade estará em cena. Mas, o que é melhor, saberemos que não é especificamente esse o centro da questão. "De Longe Te Observo", de certa forma, retoma o clássico tema do olhar no cinema. E isso se verá a seguir, quando o homem de classe média abordará outro rapaz pobre. Este o repelirá com violência, mas o homem não dará a coisa por encerrada. Neste momento se dá o início da trama dos olhares. O que pode significar, num primeiro momento, uma trama de amizade, ou até de mútua aceitação, disfarça, na verdade, um conflito de olhares. Esses dois homens se olham, se medem, se atraem, se repelem. Toda a questão é: que olhar dominará o outro? É esse o drama do longa – guardadas as devidas proporções, é o mesmo do Dr. Mabuse, de Fritz Lang, com a óbvia diferença que "De LOnge Te Observo" não pode ser considerado um filme genial. Mas é íntegro. De maneira que as vaias que recebeu ao ser premiado no Festival de Veneza com o Leão de Ouro ainda estão por ser explicadas (pelo menos se pensarmos que "Dheepan" não foi acolhido da mesma maneira quando ganhou Cannes, talvez por ser europeu). É íntegro, eu diria: toma seu centro de conflito e o desenvolve até o desenlace. Existe aí uma disputa não só de olhares como de classes – não raro, pessoas têm um poder de olhar que deriva da classe a que pertencem, e isso o filme desenvolve bem. Um destruirá o outro, metodicamente. Veremos quem." (* Inácio Araujo *)
''Um drama gay sobre um homem de meia idade sem atrativos físicos, narrado sem nenhuma ousadia erótica, é uma receita para não atrair nem gays, nem homofóbicos. "De Longe te Observo", primeiro longa do diretor venezuelano Lorenzo Vigas, vencedor do Leão de Ouro no Festival de Veneza de 2015, retrata um aspecto do desejo homossexual evitando cautelosamente fazer um filme de nicho. Boa parte de sua força vem da revelação de uma cidade e de uma sociedade que nós, brasileiros, conhecemos mais por relatos e tememos como um exemplo do caos. O filme acompanha os périplos de Armando – o sempre excelente Alfredo Castro –, um protético solitário que segue rapazes pela ruas de Caracas e oferece dinheiro para se despirem em sua casa, enquanto ele se masturba. Nessa vida sem afetos, o único vínculo de Armando é com a irmã, que acaba de ter um bebê. Em torno desse laço ressurge o fantasma do abuso sexual: o personagem do pai que retorna e que Armando ronda, observa, mas do qual nunca se aproxima. Assim, Vigas evita a explicação psicológica para a sexualidade reprimida de Armando. O que interessa ao diretor é a função social do sexo. Quando o protagonista se interessa por Elder, garoto marginalizado que vive de pequenos golpes, o filme estabelece a ponte entre mundos que se atraem e se repelem. Armando tem sua boa renda, sua rotina e uma casa organizada, enquanto Elder vive na bagunça, o pai está na cadeia e seus ideais de consumo estão acima da realidade. Na primeira aproximação, a violência da reação do jovem, agredindo Armando por ser homossexual, indica uma relação potencialmente impossível. A resposta do mais velho, contudo, é insistente, pois acredita que o dinheiro e seu poder de compra eliminam qualquer resistência. A segunda parte do filme trata de desenvolver a relação, sobretudo da perspectiva de Elder. O dinheiro e as vantagens materiais nunca deixam de ser o motivo predominante para ele, mas há também uma assimilação de Armando como figura paterna. Aqui, intervém o olhar mais cruel do diretor, que exibe os dois lados do afeto mercenário de maneira impactante. A distância, expressa no título original como no poético "De Longe te Observo", é a visão pessimista que Vigas oferece da sociedade venezuelana, na qual não se enxerga aproximação ou complementaridade possível entre as partes. Uma Venezuela, aliás, igual a qualquer esquina brasileira." (Cassio Starling Carlos)
2015 Lion Veneza - DirectorLuc BessonStarsJean-Marc BarrJean RenoRosanna ArquetteThe rivalry between Enzo and Jacques, two childhood friends and now world-renowned free divers, becomes a beautiful and perilous journey into oneself and the unknown.****
''Quando surgiu, com sucesso, a trinca de jovens estetas do cinema francês ganhou ganhou de Claude Chabrol o apelido de trio BBC. Designava Beixeix, Besson e Carax. Seriam três novos mestres da renovação. Chabrol lhes dava o benefício da dúvida. Um dos filmes que mais chamaram atenção naquele momento foi "Imensidão Azul". Besson retomava a ideia de um cinema francês intercionalizado, rompendo a barreira de temas nacionais. Para isso, o diretor optou por uma espécie de banal chique, que aqui se torna por pretexto a rivalidade entre mergulhadores. Há um grande azul, ali, é verdade, mas também um grande vazio. Daí o tio BBC não ter dado em nada consequentemente.'' (* Inácio Araujo *)
1989 César - DirectorJulie DelpyStarsJulie DelpyDany BoonVincent LacosteViolette, a 40-year old workaholic with a career in the fashion industry falls for a provincial computer geek, Jean-Rene, while on a spa retreat with her best friend.''A melhor coisa de "Lolo: O Filho da Minha Namorada, sexto longa de Julie Delpy, é a abertura, um desenho animado ao som da deliciosa canção dos anos 1960 Music to Watch Girls By, na versão classuda de Andy Williams. Depois entramos num clima propício para desfrutar o tipo de comédia que iremos ver, com romance, ciúmes, equívocos de toda sorte e uma boa dose de charme. Mas, como acontece com os filmes de abertura acachapante, nossa expectativa tende a ficar elevada, rapidamente acostumada a uma leveza que o filme logo tratará de desmentir, para nossa decepção. Isso não significa que "Lolo" seja um mau filme. Na verdade, é bem melhor que o anterior de Delpy, Dois Dias em Nova York. Mas o impacto do início jamais retorna. Na trama, Violette (Delpy), uma bem-sucedida editora de moda, conhece Jean-René (Dany Boon), um técnico de computadores, num spa. Ele não se sente à altura dela, tanto na beleza quanto na classe social, mas por algum motivo o romance decola –e funciona a química entre as atuações de Delpy e Boon. Logo Jean-René começa a frequentar o apartamento de Violette, e aí as coisas passam a degringolar. É que Violette tem um filho de 19 anos, Eloi (Vincent Lacoste), cujo apelido carinhoso é ''Lolo''. Para esse garotão mimado, tratado como se ainda fosse um bebê, Jean-René não se encaixa no padrão de excelência de sua mãe. Na verdade, é mais uma manifestação do Complexo de Édipo. Quem se envolve com a mãe de Lolo torna-se seu inimigo. Como contornar a situação quando a própria Violette, cega pelo amor incondicional, é incapaz de enxergar no filho qualquer manifestação de ciúme? É o desafio de Jean-René. Parte do charme de "Lolo" vem de Dany Boon, ator que nem sempre faz bem aos filmes, mas se adequa perfeitamente a um personagem que conjuga simplicidade e despojamento com um tanto de inadequação. Um tipo ordinário que no cinema tende a despertar compaixão." (Sergio Alpendre)
- DirectorBrad FurmanStarsBryan CranstonJohn LeguizamoDiane KrugerA U.S. Customs official uncovers a money laundering scheme involving Colombian drug lord Pablo Escobar.
''Estamos nos anos 1980 do século passado. Os colombianos, com Pablo Escobar à frente, dominam o mercado da cocaína e similares, enquanto o governo Reagan dedica-se obsessivamente a desbaratar esse outro império do mal. O agente Robert Mazur (Bryan Cranston) se faz passar por traficante para infiltrar-se na gangue. Ninguém dirá que é desprezível a aventura de Mazur, a começar pelo fato de que "Conexão Escobar" é baseado nas memórias do próprio agente sobre o acontecido naquele momento. E o que acontece não é pouco. Mazur toma a identidade de um grande especialista em lavagem de dinheiro e, pouco a pouco, vai se aproximando dos maiorais da gangue. A ação não envolve apenas esses maiorais, e talvez daí venha o melhor: vai desde o envolvimento do agente Emir (John Leguizamo), passando pela cooptação de presidiários, até o envolvimento de banqueiros internacionais tão poderosos como inescrupulosos. Claro, não é apenas isso: à medida que se aproxima de Pablo Escobar e de outros maiorais da gangue, o perigo se torna mais intenso. Mas os piores riscos são sofridos pela família, claro: risco de retaliação pelos traficantes, por exemplo. Esse não é o maior, no entanto. Risco mesmo é sua companheira de trabalho, a bela Kathy (Diane Kruger). A mulher de Mazur sofrerá também ao entrar em contato com a suposta noiva do agente. Para resumir, assunto é o que não falta. Diante disso, o pior perigo para uma boa mise-en-scène é a dificuldade de escolher o eixo central de sua narrativa. É nesta armadilha que cai Brad Furman, diretor do filme e bom diretor de atores. Entre todos os pontos a desenvolver, o filme desenvolve todos. Com isso, cria um filme de ação incessante, com momentos muito raros de distensão, o que produz o desequilíbrio do conjunto. Vejamos alguns pontos que poderiam ser centrais: a fatuidade da política de repressão a drogas (verificável com facilidade nos dias que correm); as motivações de Mazur para se meter em tais e tantos perigos, quando já poderia estar aposentado (poderiam variar de idealismo a gosto pela aventura, ou a proximidade da bela garota com quem forma dupla).'' (* Inácio Araujo *)